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sábado, 9 de julho de 2016

A MORADA FINAL DOS JUSTOS A PARTIR DAS CONFISSÕES E CATECISMOS REFORMADOS


Sempre soubemos que aqueles que fossem salvos morariam, final e definitivamente,  no CÉU. Claro que a posição dos Testemunhas de Jeová também era bem conhecida. Segundo eles, a TERRA seria o HABITAT FINAL DOS JUSTOS.

Contudo, ultimamente está sendo difundida por teólogos reformados, cada vez mais, a ideia de que realmente a TERRA será a MORADA FINAL DOS JUSTOS.

Como porta-voz desse "pensamento supostamente reformado", compartilhado por muitos outros que professam a boa teologia reformada, utilizaremos a fala de um dos mais proeminentes teólogos brasileiros - o Drº Heber Campos, que tem trabalhado esse e outros assuntos, conseguindo chamar atenção para si, com algumas declarações polêmicas. Vejamos: 

Em um encontro da FIEL, onde foi um dos conferencistas, lhe fizeram a seguinte pergunta: "Pastor Heber, a gente vai morar no céu?". Transcreveremos abaixo, literalmente, sua resposta:

"Eu creio que sim! Aliás, eu tenho certeza que sim". 

Contudo, se observarmos bem a continuidade de sua resposta, veremos que ele NÃO acredita que o CÉU será a MORADA FINAL DOS JUSTOS, mas apenas uma espécie bem peculiar de MORADA PROVISÓRIA. Observe: 

"ATÉ que a redenção nossa se complete, no dia da ressurreição ou no dia da transformação daqueles que tiverem vivos; se você morrer antes, você vai direto pro CÉU, porque o CÉU é o lugar pra onde vão os remidos do Senhor ATÉ que sua redenção se complete. Então, nós vamos morar no CÉU, só que: o CÉU NÃO É O LUGAR DEFINITIVO de morada nossa; o CÉU é um local temporário".

E continua:

"[...] na volta do Senhor, então, nós viremos pra cá,  encontramos com Jesus, ele nos leva pra cima, transforma tudo que está AQUI EM BAIXO e nos trás de VOLTA PRA CÁ". A NOVA TERRA é o DESTINO FINAL DO HOMEM; a NOVA TERRA é o habitat DEFINITIVO do homem"

Se observarmos bem as expressões "AQUI EM BAIXO" e VOLTA PRA CÁ", parece ficar claro que a expressão "Novo Céu e Nova Terra", não se trata de uma espécie de "outra dimensão" ou mesmo um tipo de "sinônimo do CÉU", como convencionalmente costumávamos pensar. Antes, pelo contrário, na mente do Drº Heber, e de muitos com ele, a referência é, de fato, a esta mesma TERRA em que agora habitamos. Ela apenas sofrerá uma transformação "em tudo que está aqui embaixo", no dizer dele. Essa ideia parece advogar consenso entre os reformados, mas está longe de ser aceita pacificamente e sem dificuldades, o que fica evidente quando o Drº Heber reconhece: "isso pode chocar você, pode provocar você". Confira no vídeo abaixo:


Dizem que as Confissões e os Catecismos Reformados silenciam em relação ao tema "MORADA FINAL DOS JUSTOS" e que, por isso mesmo, há certa liberdade para pensar o assunto e até arriscar algumas divagações teológicas. Ou seja, esse pensamento do Drº Heber, por exemplo, não trás, segundo se pensa, nenhum problema ou choque confessional, já que a Confissão de Fé de Westminster, que ele subscreve, não trata do assunto, deixando-o livre daquilo que seria a interpretação oficial de sua igreja. Mas, será que isso é verdade?

O que têm a nos dizer sobre a MORADA FINAL DOS JUSTOS as Confissões e Catecismos Reformados? Absolutamente nada, como afirma a maioria? É o que veremos a seguir. Faremos um breve levantamento desse tema a partir desses textos confessionais. Vejamos:

1º) CONFISSÃO BELGA:

Fala de "Recompensa gratuita" para anunciar o Estado Final dos justos, que vão "possuir a glória que jamais o coração de um homem poderia conceber" (Artigo 37:). Os textos utilizados para basear tal afirmação nos remetem ao CÉU e não à TERRA, ainda que restaurada, como por exemplo:

"Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós" (Mateus 5:12).

2º) CATECISMO DE HEIDELBERG:

Coloca o JUSTO, em seu estado final, no CÉU e não na TERRA com o argumento de completude do Corpo de Cristo, uma vez que "Ele é, no CÉU, nosso advogado junto a seu Pai. Em Cristo, temos nossa carne no CÉU como garantia de que ele, como nosso cabeça, também nos levará para si como seus membros" (Pergunta 49). Nos levará para o CÉU ou para TERRA? Obviamente que para o CÉU.

E ainda:

Depois da afirmação de que "Cristo está assentado à direita de Deus" (Pergunta 49), afirma também, como se o salvo estivera falando que "me levará para si mesmo, com todos os eleitos, na alegria e glória CELESTIAIS" (Pergunta 52).

Diz também que "Meu consolo é que, depois desta vida, minha alma será imediatamente ELEVADA para Cristo, seu cabeça. E que também meu corpo ressuscitado pelo poder de Cristo, será UNIDO novamente à minha alma e se tornará semelhante ao corpo glorioso de Cristo" (Pergunta 57).

Note que não estamos tratando aqui de um suposto "estado intermediário" (como é ortodoxamente pensada essa doutrina), quando a alma estaria aguardando a ressurreição. A ordem dos acontecimentos é clara: após a morte a alma é ELEVADA (aqui, obviamente, só pode ser uma referência aos CÉUS) para Cristo e, depois, o corpo, agora ressurreto, será UNIDO À ALMA. Note: a ALMA não irá a lugar algum, mas o CORPO ressurreto irá ao seu encontro. Não há, também, qualquer afirmação que, sequer, sugira uma mudança de LUGAR em relação ao lugar onde a Alma já se encontrava. 


3º) CÂNONES DE DORT:

Diz que os "pecados diários de fraqueza surgem e até as melhores obras dos santos são imperfeitas [...]. Também são motivos para ansiar pela meta da perfeição. Eles fazem isto até que possam reinar com o cordeiro de Deus nos CÉUS, finalmente livres deste corpo de morte" (5º Capítulo da doutrina: Perseverança dos Santos, Artigo 2º).

Percebe-se claramente que a expectativa dos teólogos que prepararam a "Contra-Remonstrance" era de que a morada final do justo é o CÉU e não a TERRA, ainda que restaurada. 


4º) CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER

Afirma claramente que "A alma  dos justos, sendo aperfeiçoada em santidade, é recebida no mais alto dos CÉUS, onde contempla a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção do corpo deles"; a alma dos ímpios é lançada no inferno [...]. Além desses dois lugares destinados às almas separadas de seus respectivos corpos, a Escritura não reconhece outro lugar (Capítulo XXXII.I, Do Juízo Final).

A seção I desse capítulo está realmente tratando do que a teologia Reformada chama de "estado intermediário da alma". Contudo, é preciso entender que o "estado intermediário" o é em relação à CONDIÇÃO DA ALMA e não ao LUGAR onde ela se encontra, nos CÉUS. Ou seja, o estado do homem é intermediário porque ainda não está em seu estado final e definitivo, o que só ocorrerá quando sua alma for unida ao seu corpo novamente; aí, sim, teremos o "estado final", o corpo glorificado. Portanto, é absolutamente errado pensar que o "estado intermediário" se refere ao LUGAR onde a alma se encontra, como se ela depois fosse morar em um LUGAR definitivo, que segundo o Drº Heber, seria a TERRA.

É de se estranhar ainda a falta de dúvida que os ÍMPIOS PERMANECERÃO no INFERNO, mesmo após a re-união de seus corpos "ressuscitados para a desonra" com suas almas, que já se encontravam no INFERNO, como nos diz essa mesma seção da Confissão de Fé de Westminster, transcrita acima. Ou seja, SE OS ÍMPIOS NÃO MUDARÃO DE ENDEREÇO E PERMANECERÃO NO INFERNO (e ninguém discorda disso), ONDE SUAS ALMAS OUTRORA JÁ DESENCARNADAS JÁ ESTAVAM, PORQUE, ENTÃO, OS JUSTOS HAVERIAM DE MUDAR DOS CÉUS, ONDE IGUALMENTE SUAS ALMAS JÁ ESTAVAM, PARA A TERRA?

A seção II, desse mesmo capítulo, confirma nossa argumentação acima, quando afirma que "No último dia [...], todos os mortos serão ressuscitados com seu próprio corpo, e não outro [...] E SE REUNIRÃO NOVAMENTE À SUA ALMA, PARA SEMPRE (Capítulo XXXII.II, Do Juízo Final). Obviamente que essa seção já trata do ESTADO FINAL dos justos. 

Para solucionar o problema da MORADA FINAL DOS JUSTOS, basta tão somente fazer DUAS perguntas:

PRIMEIRA PERGUNTA: Em que lugar estava a ALMA dos JUSTOS, em seu estado intermediário? A essa pergunta só cabe uma resposta possível: no CÉU (A alma  dos justos, sendo aperfeiçoada em santidade, é recebida no mais alto dos CÉUS).

SEGUNDA PERGUNTA: Em que lugar os CORPOS RESSURRETOS encontrarão as respectivas ALMAS? Ora, como consequência da primeira resposta, só uma é possível a essa também é: no CÉU.

A expressão "PARA SEMPRE", no final da seção II, sugere que não haverá mudança alguma depois dessa união da ALMA com seu respectivo corpo RESSURRETO.

No capítulo VIII, que trata de "Cristo, o Mediador", afirma: "[...] ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, com esse corpo subiu ao CÉU, onde está  sentado à destra do Pai. [...] para todos aqueles que o Pai lhe deu, adquiriu não só a reconciliação, como também uma HERANÇA PERDURÁVEL NO REINO DOS CÉUS", não na Terra, ainda que a "nova" e não provisória, mas PERDURÁVEL.

No capítulo XXIII, que trata do "Magistrado Civil", afirma: "Os magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da Palavra e dos Sacramentos, ou o poder das chaves do Reino do CÉU". Aqui está mais uma vez claro que quando o assunto é salvação, vida eterna, na perspectiva dos Puritanos, a palavra de ordem é CÉU, e, não, Terra, ainda que restaurada.

No capítulo XXV, que trata da "Igreja", afirma: "As igreja mais puras debaixo do CÉU estão sujeitas à mistura e ao erro". Aqui fica claro que os "delegados de Westminster" entendiam o CÉU (onde os justos morarão, final e eternamente) como um lugar específico, diferente da Terra (onde moravam), diferente do inferno (onde os ímpios morarão eternamente) e diferente, também, de um conceito subjetivo de "condição de espírito".

No Capítulo XXX, que trata das "Censuras eclesiásticas", afirma: "A esses oficiais estão entregues as chaves do Reino dos CÉU". Mais uma referência soteriológica que aponta para o CÉU, jamais para a Terra, ainda que restaurada.
 

5º) CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER:

Confirma a afirmação da Confissão de Fé de Westminster, de que a ALMA dos justos são "recebidas nos mais altos CÉUS (Pergunta 86), sendo posteriormente unidas aos seus respectivos corpos, além de outras afirmações sobre as ALMAS dos ímpios, que serão lançadas no inferno, onde permanecerão, mesmo depois da RE-UNIÃO com  seus respectivos corpos desonrados; e que tudo isso é "PARA SEMPRE" (Pergunta 87),

Afirma ainda que, depois da ressurreição, os ímpios terão a sentença condenatória proferida contra si e serão "lançados NO INFERNO, para serem punidos com tormentos indizíveis do CORPO e da ALMA, com o diabo e seus anjos PARA SEMPRE (Pergunta 88). Note que, assim como a confissão de Fé, o Catecismo Maior também entende que "uma vez no inferno (no chamado estado intermediário), sempre no inferno (no estado final, com a alma já unida ao corpo). Ou seja, novamente: os ÍMPIOS não mudarão seu lugar de morada eterna, porque os JUSTOS haveriam de sofrer essa mudança?

Além disso, afirma que "no dia do Juízo, os justos (que estiverem vivos), sendo arrebatados para encontrar a Cristo nas nuvens [...] se unirão com ele para julgar os reprovados, anjos e homens, e serão RECEBIDOS NO CÉU, onde viverão, plenamente e PARA SEMPRE [...] na companhia de inumeráveis santos e ANJOS" (Pergunta 90). 

Aqui cabe uma simples pergunta, que desmontará o argumento, pelo viés confessional, de que a morada final dos justos será na TERRA: Em que lugar os ANJOS morarão eternamente? Obviamente que a essa pergunta também só cabe uma resposta: no CÉU.
 
Em resposta à pergunta 53 - Como foi Cristo exaltado na sua ascensão - responde: [...] em subir aos mais altos CÉUS [...] para ali, à destra de Deus, aparelhar-nos um lugar onde Ele está [...]. Notem: Cristo, nos CÉUS, irá aparelhar-nos um lugar. No dizer do próprio Cristo, ele foi "preparar-vos lugar" (João 14:1-3).

Em resposta à pergunta 55 - Como faz Cristo a intercessão - responde: "Cristo faz intercessão [...]  perante o Pai no CÉU, pelo mérito de sua obediência e sacrifício cumpridos na Terra". Na linguagem de Westminster só existe CÉU, TERRA e INFERNO.


CONCLUSÃO:

Parece claro, em nossa opinião, que além das CONFISSÕES e CATECISMOS REFORMADOS ensinarem sobre a MORADA FINAL DOS JUSTOS, bem como dos Ímpios, ainda que de forma não exaustiva, TAMBÉM ensinam que ESSA MORADA será no CÉU e não na TERRA, ainda que restaurada, como ensinam o Drº Heber Campos ladeado de um número enorme de Reformados. Portanto, incorrem em desobediência confessional, em nossa opinião, especialmente os que são obrigados a subscreverem os Símbolos de Fé de Westminster, aqueles que ensinam ao contrário, isto é, que a MORADA FINAL DOS JUSTOS será na TERRA e não no CÉU.  A única exceção possível para uma não quebra de confessionalidade, mantendo-se a ideia de uma suposta MORADA FINAL DOS JUSTOS na "NOVA TERRA", restaurada, seria se ela fosse pensada como um sinônimo do CÉU.
 
Nunca é demais lembrar: os Catecismos e Confissões Reformados não são a própria Escritura. São interpretações possíveis dessa Escritura. Por óbvio, reconhecemos que existem outras interpretações. Contudo, aqueles que fazem parte de uma igreja confessional, como é a igreja Presbiteriana, por exemplo, se veem obrigados, por força de consciência, de lógica e de coerência, a adotarem a interpretação da Confissão de Fé e dos Catecismos de Westminster como interpretação oficialmente adotada, como é afirmado logo no 1º Artigo de sua Constituição: "NATUREZA, GOVERNO E FINS DA IGREJA: Art. 1º. A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamentos e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve". Deve-se ressaltar ainda que "Em 1988, reunião extraordinário do Supremo Concílio, modificou a CI, de: [...] sistema expositivo, para [...] sistema impositivo", segundo Solano Portela, em seu site, em um artigo cujo título é "A Confissão de Fé de Westminster e os Votos de Ordenação na Igreja Presbiteriana".

terça-feira, 28 de junho de 2016

A ANSIEDADE, SEUS MALES E O REMÉDIO PARA VENCÊ-LA




"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças" (Filipenses 4:6). Palestra proferida em 26/06/2016, na 1ª Igreja Presbiteriana de Aracajú, pelo Rev.Ronildo Farias, presidente da JURET-N/Ne.

domingo, 17 de abril de 2016

BREVE REFLEXÃO SOBRE IMPEACHMENT E PENSAMENTO REFORMADO


Hoje, 17/04/2016, é um dia especialmente difícil pra nossa Presidente Dilma. Oremos por ela. Sim ou não?

É certo que muitos pastores e líderes religiosos - militantes de oposição - dirão que não. Na verdade, talvez não digam com palavras; mas, quando participam de manifestações com intenção clara de retirá-la do poder, estão dizendo, sem dizer, que não estão orando por ela, pra que vá bem em seu governo. Talvez, contra ela sim. Fala-se até em oração imprecatória, isto é, oração de maldição contra a presidente Dilma, com o fim de que seja banida definitivamente.

Particularmente entendo que os políticos que estão tratando desse assunto no dia de hoje possuem total legitimidade legal para fazê-lo. É função deles, alguns até pastores que, abdicando de seus ministérios em igrejas, labutam por aquilo que acreditam na câmara e no senado. Não estarei me referindo a esses. Estão fazendo seu papel de político, sem entrar no mérito da questão do julgamento de valor.

A questão é: qual deve ser o papel da igreja? Qual deve ser o papel dos líderes religiosos e dos membros das igrejas?

Sem prejuízo das obrigações trazidas pela cidadania, entendo que, como igreja, apenas temos o papel de orar pela presidente. Orar por ela e não contra ela.

Existe vasta prova bíblica que nos leva a fazer isso e nenhuma que nos autorize a assumir, como igreja, uma postura de rebeldia, zombaria e desonra contra as autoridades constituídas pelo próprio Deus, a exemplo de:

"Exorto, pois antes de tudo, que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda piedade e honestidade" (I Tm 2:1-2).

E se o "Rei" for corrupto? O papel da igreja não mudará, por isso.

Mas, entendam: não estou dizendo que um religioso não possa definitivamente assumir uma postura contundente contra um governante. Se entendermos que esse religioso também é um cidadão sujeito às mais variadas influências ideológicas, e, sendo assim, tem e assume posição política bem definida, isso lhe dará uma brecha para fazê-lo, se assim desejar. Contudo, deve fazer isso desprovido de suas prerrogativas religiosas, se é que isso é possível. Esqueçam que são pastores e líderes religiosos. Façam-no como cidadãos - apenas; se é que isso é possível. Mais ainda: não levem suas igrejas a desandarem a boca contra a presidente, como muitos estão fazendo, chamando-a de corrupta, antes mesmo de justo julgamento e sentença proferida por quem tem essa competência. Levem suas igrejas a orarem pela presidente e pela situação do país. Parece que esqueceram que Deus está no controle de tudo não é? Querem dar uma ajudinha para que Deus resolva essas questões?

Quando lemos os documentos Reformados sobre essa relação com nossos governantes, o que lemos? Vejamos o que lemos, mas já adianto: nenhuma palavra que dê base para que aja insurreição da igreja contra a presidente Dilma.

O Catecismo Maior de Westmister, ao interpretar o 5º mandamento, à pergunta 127: Qual é a honra que os inferiores devem aos superiores? Responde da seguinte forma:
"A honra que os inferiores devem ao superiores é toda a devida reverência sincera, em palavras e em procedimento; a oração e ações de graças por eles [...], a manutenção de suas pessoas e autoridade".

O mesmo documento Reformado à pergunta 128: Quais são os pecados dos inferiores contra os seus superiores? Reponde:

"Os pecados dos inferiores contra os seus superiores são: [...] o desprezo e a rebelião contra suas pessoas e posições [...], a zombaria e todo comportamento rebelde e escandaloso, que vem a ser uma vergonha e desonra para eles e para o seu governo".

É certo que as perguntas 129 e 130 vão tratar dos deveres e pecados dos superiores contra os inferiores. Mas, nem a falta do cumprimento de seus deveres, nem seus pecados que atingem os inferiores são, em hipótese alguma, autorização para que esses não cumpram seus deveres para com os superiores ou mesmo para pecarem contra eles.

A presidente continuar no governo será bom para o Brasil? Penso até que não. Acho que o Temer assumindo a tendência é que as coisas melhorem e a crise, que é mais política que qualquer coisa. abrande. Porém, não me acho no direito de lutar pela sua saída. Que nossos legítimos representantes façam isso.

O impeachment não é golpe. Antes, pelo contrário, é um recurso constitucional e natural de democracias consolidadas. Isso não deveria nem mesmo gerar grandes celeumas à nação. Se há materialidade de crime para o prosseguimento do processo e, parece, O STF já disse que há, fim de papo.

Daí a dizer que a vontade da maioria esmagadora da população brasileira é a favor do impedimento da presidente, acho um julgamento temerário. Que base temos para tal afirmação? Os 06 milhões de manifestantes em todo o Brasil? E os outros 48 milhões que votaram em Dilma? Isso considerando que os 06 milhões é composto, também, por eleitores arrependidos de Dilma.

Na minha opinião. não há legitimidade para fazer tal afirmação. Teríamos essa confirmação em 2018. Mas, parece, não querem esperar. Medo de perder novamente? Medo de não ver a afirmação se confirmar?

Por fim, oremos pela Presidente neste dia particularmente difícil. Se ela não sair, o que é pouco provável, que venha 2018. Se ela sair, que venha 2018, onde realmente o povo poderá se manifestar democraticamente.


Quanto a mim, já vou avisando: não votarei em candidatos do PT em 2018. Provavelmente, por conta de alinhar ao lado da direita e dos pressupostos liberais, votarei em algum candidato com esse perfil. Mas isso é apenas a opinião de um cidadão, que tem esse direito. Mas não me copiem. Cada um com sua convicção.

sábado, 26 de março de 2016

INTRODUÇÃO À DOUTRINA DO SER DE DEUS - Parte 1/4


TEXTO BÁSICO: Mateus 16:13-17

INTRODUÇÃO:

Por que estudar sobre o SER de Deus?

Eu diria que nossa vida, nossa salvação depende, em última análise, do correto entendimento acerca do Ser de Deus; de quem Ele É. Um entendimento errado sobre quem é Deus reflete diretamente no relacionamento que eu terei com Ele.

Por exemplo, o testemunha de Jeová não acredita na Trindade; acredita que Jesus não é Deus. No máximo acreditam que ele seja um deus menor, inferior. E isso é muito grave. Perceba como um entendimento errado acerca do SER de Deus pode direcionar toda uma comunidade para um total distanciamento do Deus verdadeiro.

O que cremos sobre Deus determinará os nossos padrões de moralidade [...]. Tudo o que viermos a saber sobre Deus determinará tosos os outros relacionamentos nos vários campos da teologia (CAMPOS, 2002, p.13).

ELUCIDAÇÃO:

No texto que lemos vimos Jesus perguntando acerca da visão que as pessoas tinha sobre Ele mesmo. É interessante ver a diversidade de respostas apresentadas pelos discípulos. “Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas” (Mateus 16:14).

É claro que todas essas respostas estavam erradas. É claro também que essas respostas descreveriam, necessariamente,  o nível de relacionamento que essas pessoas teriam com Jesus. Ora, se ele é apenas um profeta, ainda que um grande profeta, mesmo assim,. Ele não mereceria adoração e, portanto, não seria adorado por essas pessoas que tinham essa definição acerca Dele.

Jesus então insiste e agora quer saber da boca dos seus próprios discípulos qual a visão que tinham acerca dele. E ele pergunta: E vós, quem dizeis que eu sou? (Mateus 16:15).

Interessantes essa insistência de Jesus. Talvez isso denote a importância de termos uma visão correta acerca de Deus, acerca do Ser de Deus;

Pedro, prontamente respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
(Mateus 16:16).

Jesus, então, aprova a resposta de Pedro e ainda diz que ele só pode dar essa resposta devido a uma comunicação especial de Deus ao seu coração, que ele não poderia ter chegado a essa conclusão sozinho, apenas pelo seu esforço racional, mas que somente pela revelação de Deus:

“E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus”
(
Mateus 16:17).

É evidente que a resposta de Pedro, em contraste com a resposta das outras pessoas, atendia perfeitamente o objetivo pelo qual levou Jesus a essas indagações.

Porém, afirmar que Jesus é Deus ou ainda afirmar a existência de Deus não resolve todos os problemas e todas as dificuldades. A questão é: o que significa ser Deus, pra mim? Quem é Deus, pra mim? Quais são as prerrogativas que um SER precisa ter para ser Deus, pra mim?

Sim, você pode acreditar que existe um Deus e mesmo assim ter uma visão errada sobre Deus e isso te levará, necessariamente, a ter um relacionamento distorcido com esse Deus que você diz acreditar que existe.

Por exemplo: os deístas acreditam em Deus. Mais ainda: eles acreditam que Deus é soberano, criador, cheio de poder e Santo, Santo, Santo. Tá errado isso? Evidente que não. Qual o problema então? Eles acreditam Deus criou o mundo, suas leis naturais e, depois disso, se afastou e não intervém mais nem no mundo nem na história.


Pensar isso acerca de Deus, de quem Ele é e, portanto, acerca do SER de Deus, levará a pessoa a não mais ver a necessidade de orar a Deus, porque Deus não responderia mesmo sua oração, porque é um Deus distante, longe, apenas transcendente. 

INTRODUÇÃO À DOUTRINA DO SER DE DEUS - Parte 2/4


 TEMA: O Ser de Deus

 ARGUMENTAÇÃO:

1º) Em primeiro lugar, precisamos saber que uma das dificuldade para entender acerca do SER de Deus é que a bíblia não está muito preocupada em afirmar a existência de Deus, em provar a existência de Deus.
Se fosse essa a preocupação das Escrituras deveríamos ter um sofisticado sistema de provas sobre a existência de Deus. Mas, ao contrário, logo em Gêneses,  o que temos? “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gêneses 1:1).  Nada sobre quem Deus ou mesmo sobre o que é SER Deus.

Por conta disso, uma série de argumentos filosóficos precisam ser postos, sobre a existência de Deus. Quais sejam:

a)     Argumento cosmológico

Defende que tudo que existe, existe de forma causal, isto é, foi causado por algo ou alguém.

Aristóteles defendia também que “tudo que se move neste mundo tem que ser movido por algo que não seja ele próprio”. Ele entende também que existe um “motor que move todas as coisas”. Ele não chama esse motor de Deus, mas ele reconhece a necessidade da existência desse motor.

Já Tomás de Aquino vai dizer que esse motor de Aristóteles é precisamente Deus. Para ele: “Deus é a causa não causada que causou todas as causas” (Tomás de Aquino).

            b)    Argumento Teleológico (telos=propósito)

Defende que tudo tem um propósito e, assim sendo, também é necessário a existência de alguém que indique esse propósito e que seja autor do projeto que terá um propósito.

Por exemplo, um relógio não veio de uma explosão, de forma que tenha sido criado ao acaso e sem propósito. Alguém fez não somente o projeto desse objetivo, mas também pensou acerca do propósito da existência dele.

c)     Argumento antropológico (antros=homem)

Homem não é apenas um ser físico, tem senso moral, diferente de outros seres, intelecto, emoções e volição/vontade. Essa distinção que lhe é característica só pode ter sido fruto de uma comunicação de outro Ser que possui essas características.

d)    Argumento Ontológico – Anselmo 1033

Parte da afirmação que a crença em Deus é universal.  Todo homem  projeta a ideia de perfeição, de infinito. Ora, como um ser finito para conceber algo infinito? Descartes vai dizer que isso é a assinatura do Criador no homem.

2º) Em segundo lugar, precisamos entender a diferença entre Ontologia e Teontologia. Essa simples distinção falará sobre as propriedades do SER de Deus.

Ontologia significa “estudo do ser” e consiste em uma parte da filosofia que estuda a natureza do ser, a existência e a realidade. É o estudo daquilo que se “É” e não das qualificações que se possui.

Então, a ontologia pode ser utilizada também para o estudo do SER de Deus? Conceitualmente, não.

ONTOLOGIA é o Ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres.

Ou seja, a Ontologia estuda o que é inerente ao homem. Podemos pegar Adão como modelo, para efeito didático. Adão tem  senso moral, diferente de outros seres, intelecto, emoções e volição/vontade.  Isso é Adão, isso faz parte inerente do seu Ser. Adão é um homem e não um vegetal; Adão é um homem e não um cachorro; por conta dessas características. Mas não existe só Adão de homem, correto? Existem outros homens e pra que seja considerado homem é preciso ter essas mesmas características que foram identificadas em Adão, num ser em particular.

Adão e os homens possuem essência e qualidades em distinção. Já Deus é tanto essência quanto seus Atributos ou qualidades, não há distinção entre essência e qualidades.

Por isso não podemos usar a Ontologia para estudarmos o SER de Deus, visto que ele é ÚNICO e que não há ninguém como o Senhor. Ele possui algumas características inerentes somente a ele, que nenhum outro ser possui.

Sproul chega a afirmar corretamente que “apenas Deus “É” que apenas Deus tem SER, nós somos efêmeros, passageiros, uma espécie de subproduto daquele que “É”.

Por isso, o estudo acerca do SER de Deus é TEONTOLOGIA e não ONTOLOGIA.

INTRODUÇÃO À DOUTRINA DO SER DE DEUS - Parte 3/4


3º) Em terceiro lugar, depois dessas informações, veremos sobre algumas características peculiares acerca do SER de Deus:

a)    Singularidade:

Deus é único, sem par. Não há outro como Ele, além Dele. Existem muitos textos que comprovam essa singularidade. Vejamos alguns: Dt 6:4, 32:39, I Rs 8:60-61, I Cor 8:4,6 e Ef 4:5-6.

Se houvesse mais de um Deus, não haveria Deus de fato. O politeísmo nega o Absoluto, nega a Última Causa, nega a independência de Deus, nega a imutabilidade de Deus, nega a eternidade de Deus (CAMPOS, 2002, p.13).

b)    Imanência e Transcendência

A imanência e a transcendência de Deus, segundo  Millard Erickson, “não deveria se consideradas como atributos de Deus” (CAMPOS, 2002, p.14). De fato, são conceitos muito mais ligados ao que Deus é, portanto, ao ser SER, que às qualidades que possui.

O Teísmo tem uma visão correta acerca do SER de Deus; é assim que as Escrituras apresenta Deus. Um Deus que é, ao mesmo tempo IMANENTE (que se relaciona com a criação) e TRANSCENDENTE (que está acima da criação).

Isso parece um assunto distante de nós, mas está mais perto que imaginamos. Por exemplo, tem uma música que cantamos em nossas igrejas, cuja a letra está errada e para cantarmos precisamos fazer uma modificação teológica. A música diz “és Deus de perto e não de longe”. Ou seja, ensina que Deus se relaciona conosco e que não é um Deus que também está longe, transcendente. O problema é que a bíblia ensina tanto a imanência de Deus (o Deus que se relaciona com sua criação) quanto a transcendência de Deus (o Deus que é superior e que está acima de nós).

b1)  IMANÊNCIA
Como já deixamos claro, diz respeito ao relacionamento de Deus com o mundo criado, especialmente com o ser humano e sua história. Deus se envolve com a história humana. Vejamos alguns textos: Mt 1:23, Ex 3:7-8, Sl 104:27-30, Hb 4:15.


Perigos da Imanência:

 Além do Panteísmo, que é a identificação exacerbada da criatura com o criador, gerando fusão e confusão entre um e outro, outro grande perigo que deve ser evitado no que diz respeito a doutrina da Imanência é, segundo Herber Campos, a “identificação de Deus com Satanás”.
Citando Karl Barth, ele lembra de dois casos em que cristãos associaram momentos políticos com a obra de Deus cumprindo seus propósitos: o primeiro tem conexão com a política de guerra de Kaiser Wilhelm e o segundo quando alguns cristãos consideraram as políticas de Adolf Hitler e do Nazismo como uma atividade de Deus no mundo.
Interessante porque percebemos essa característica nas manifestações contra Dilma. Vários cristãos afirmando que estão agindo em conformidade com Deus e com seus princípios. Isso pode ser considerado uma distorção da doutrina da imanência de Deus.

b2)  TRANSCEDÊNCIA:

Essa doutrina está presente em todas as religiões teístas. É a doutrina que fala que Deus está assentado nas alturas, no seu trono, sendo um Deus separado da sua criação e independente dela. Vejamos alguns textos: Isaías 55:8-9, Apo 4:1-11.  

Perigos da Transcendência:

O principal erro a ser combatido para quem crê na doutrina da transcendência de Deus é o perigo do deísmo, que crê num Deus distante e sem qualquer relacionamento com o homem e com sua história, negando a doutrina da providência divina, trazendo como consequência o pensamento da não necessidade de orar a Deus. A principal figura que exemplifica o deísmo é um relógio, cujo seu criador o constrói e depois não tem mais nenhum compromisso ou relacionamento com ele.

b3)   IMANÊNCIA e TRANSCEDÊNCIA lado a lado. 

Isaias 6:1-5, Salmo 113:5-7, Isaias 57:15, Lucas 2:14, Salmo 47:8

INTRODUÇÃO À DOUTRINA DO SER DE DEUS - Parte 4/4


4º) Em quarto lugar, com uma dimensão prática, afirmamos que usar o nome de Deus em vão é atentar contra o contra o seu SER.

Os teólogos de Westminster parecem fazer um link absolutamente consistente entre o NOME de DEUS e seu próprio SER. Vejamos:

111. Qual é o terceiro mandamento?
O terceiro mandamento é: "Não tomarás o nome to Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar em vão o nome do Senhor seu Deus": Ex 20:7

112. O que se exige no terceiro mandamento?
No terceiro mandamento exige-se que o Nome de Deus, os seus títulos, atributos, ordenanças, a Palavra, os sacramentos, a oração, os juramentos, os votos, as sortes, suas obras e tudo quanto por meio do quê Deus se faz conhecido, sejam santa e reverentemente usados em nossos pensamentos, meditações, palavras e escritos, por uma afirmação santa de fé e um comportamento conveniente, para a glória de Deus e para o nosso próprio bem e o de nosso próximo: Dt 28:58;Mq 4:5; Jr 4:2;32:39. Leia-se todo o Salmo 8.Sl 29:2;76:11;102:18;105:2,5;107:21,22;138:2; Mt 1:14;3:16;6:9;  I Tm 2:8; At 1:24,26; I Co 10:31;11:28,29; Fp 1:27;Cl 3:17; I Pe 2:12;3:15; Ap 15:3,4.

CONCLUSÃO:

Quando estudarmos o ser de Deus e os seus atributos, estaremos estudando sobre o caráter de Deus. Enquanto estivermos estudando os atributos de Deus, veremos algumas coisas acontecerem em nós, pelo impacto que o conhecimento do ser divino nos traz (CAMPOS, 2002, p.22).

domingo, 28 de fevereiro de 2016

SOLI DEO GLÓRIA - Parte 5/5


CONCLUSÃO:

SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus 

Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.



SOLI DEO GLÓRIA - Parte 4/5


2º) Erros, desvios e heresias em relação ao culto e à adoração:

a)  Na época dos reformadores:

Umas das maiores preocupações dos Reformadores, principalmente de Calvino, era a de purificar as corrupções que tinham se infiltrado no culto e na adoração da igreja de Cristo.

Nessa época muita atenção passou a ser dada à criatura, no culto, ao invés de ser dada unicamente ao criador. Então estátuas de pessoas passaram a ser prestigiadas no culto e ainda que a Igreja Católica dissesse e ainda diz que não adora a estátua, nem às pessoas ali representadas, ainda que pessoas se ajoelhem diante delas e lhes acendam velas e lhes prestem honra, uma coisa é líquida, certa e clara: a glória de Deus agora estava dividia no culto com suas próprias criaturas. Deus não admite isso. Leia comigo Isaías 42:8.

Além dessa absurda glória dada ao homem dentro do ambiente de culto a Deus, a Igreja Católica passou a inserir no culto uma série de elementos estranhos à bíblia, como por exemplo, o uso de velas, de paramentos sacerdotais, etc.

Existe duas formas de entender a teologia do culto: a) Princípio Normativo do culto: o que a bíblia não proíbe, posso ter no culto e na adoração a Deus. Esse princípio é o defendido pela Igreja Católica. A idéia é a seguinte: a bíblia proíbe velas no culto? Não, então posso ter. A vela não é um simples fator circunstancial, ela é um elemento litúrgico e existe um fator doutrinário e teológico no seu uso;  b) Princípio Regulador do Culto: só posso ter no culto e na adoração à Deus aquilo que a bíblia manda explicitamente ter. Esse princípio era defendido pelos Reformadores e visava a purificação da liturgia, do culto e da adoração de acréscimos sem embasamento das Escrituras sagradas.

Calvino colocou essa purificação do culto como algo central em sua vida e em sua teologia.

O Rev.Paulo Anglada, em seu excelente livro “Princípio Regulador do culto” confirma isso, ao afirmar que “O foco principal dos Reformadores, tais como Zwinglio [...], Farel e Calvino foi a purificação do culto das superstições e idolatria medievais” (ANGLADA. Paulo. Princípio Regulador do Culto. PES, 1997, p.6).

Essa preocupação dos Reformadores e especialmente de Calvino com o Culto e à Adoração a Deus se dá pela gravidade do assunto. Há quem pense que Deus aceita qualquer tipo de adoração. Isso não é verdade.

Lembremo-nos de Caim. Deus não recebeu a adoração dele.

Desde o tempo de Jesus havia a preocupação com o que podemos chamar de Adoração Aceitável a Deus, exatamente porque sempre houve e ainda há a possibilidade de Deus não aceitar nosso culto e nossa adoração. Veja essa preocupação em João 4:20.

Em João 4:24, o próprio Jesus ensina como deve ser o culto, a adoração para que seja aceitável por Deus: a) Em Espírito, que denota sinceridade de coração e b) Em Verdade (João 17:17), que denota conformidade com a Palavra de Deus, onde expressa como Ele quer ser Adorado.

b)      Em nossa época:

Bem, penso que em nossa época ainda convivemos com a mesma ofuscação da glória de Deus da época dos Reformadores, em relação ao culto e à adoração a Deus.

Nesse sentido, podemos ver claramente e mais uma vez a glória de Deus sendo dividida com a glória de homens, só que dessa vez, em nossa época, são eles “pregadores famosos”, cantores gospels e um elemento novo, que não existia no tempo dos Reformadores: o pecador. Sim, o culto hoje em dia é feito para agradar ao pecador e não para glorificar a Deus.

Os cultos, as igrejas, a adoração pouco a pouco foi sendo transformada em shows.

Hoje em dia temos pregadores e cantores com Fãs clubes, mais se parecem com pop stars . E, assim, a glória do culto e da adoração que deveria ser dada a Deus somente, Soli Deo Glória, é repartida com esses “profissionais da adoração”.

Mas há um aspecto do culto prestado a Deus hoje que também existia no tempo dos reformadores, mas que está cada vez mais evidente: a inclusão de práticas e elementos cúlticos sem a necessária base bíblica. Tudo isso para agradar o pecador ou ainda para satisfazer o desejo pessoal de pastores e líderes, especialmente de louvor.

Os crentes hoje seguem o mesmo princípio normativo do culto, defendido pela Igreja Católica e desprezam o Principio Regulador do culto, defendido pelos Reformadores.

A Confissão de Fé de Westminster, formulada no século XVII, no capítulo XXI.I, faz a seguinte afirmação sobre o Culto e a adoração a Deus: “o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.

Antes de continuarmos nossa abordagem sobre Erros, desvios e heresias em relação ao culto e à adoração, em nossa época, preciso mais uma vez recorrer à Declaração de Cambridge, sobre o Soli Deo Glória:

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho”.

John. F. MacArthur, citando Charles Spurgeon, num brilhante artigo intitulado “Eu quero uma religião show”, escreveu:  “O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças (comentar a vontade pq tem IPB que também faz, apesar da direção da igreja já ter proibido) e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice”.

A igreja do Senhor precisa voltar a fazer a pergunta esquecida, quando algo novo vai ser incluído em seu culto, em sua adoração: Existe base bíblica para isso?[1] Isso é muito grave.

Ainda no livro “Princípio Regulador do culto”, já citado, é perguntado: Por que Deus não se agradou da oferta de Caim? Porque Nadabe e Abiú foram mortos por colocarem fogo estranho no oferecimento de incenso (Lv 4:17-20)? Por que Uzá foi morto ao segurar a arca da aliança quando os bois tropeçaram em Quidom? Resposta reformado-puritana: porque todos eles contrariam a lei do culto, o princípio bíblico regulador do culto, que atribui a Deus o direito de prescrever a maneira pela qual ele deseja ser adorado (ANGLADA, p.28).


[1] Evidentemente que essa exigência se dá, tão somente, para elementos litúrgicos e cúlticos, como por exemplo: orações, cânticos (tipo e instrumentos), pregação, sacramentos, mas não para elementos circunstanciais, como por exemplo, bancos, som, microfones, etc. Esses últimos não fazem parte do culto. Mas atenção: alguns elementos inseridos na adoração, ainda que não biblicamente comprovados, num ambiente de culto, passam a ser parte integrante desse culto, dessa adoração. Aqui, sim, cabe a pergunta antes de inserir esses elementos: “existe base bíblica para inserir essas práticas no culto, na adoração ao senhor? Ele pediu pra ser adorado com essas práticas? Veja a diferença entre Elementos e circunstanciais do culto, mais detalhadamente: “Elementos e Circunstâncias de Culto. A Igreja Presbiteriana faz diferença entre elementos e circunstâncias de culto. Elementos de culto são os atos que têm significado religioso, prescritos na Palavra de Deus como formas aceitáveis de culto. Na nova dispensação, apenas a leitura bíblica, a pregação, a oração, a ministração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor, e o cântico de louvores a Deus são elementos regulares de culto (juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais são, por sua própria natureza, elementos ocasionais de culto). Circunstâncias de culto são todas as demais coisas, de caráter não religioso, mas necessárias à realização do culto. Estas coisas não são fixas, não fazem parte do culto em si, não sendo, portanto, especificamente prescritas nas Escrituras. Mas devem ser ordenadas à luz da revelação geral, do bom senso cristão, de conformidade com os princípios gerais das Escrituras. Como exemplo de circunstâncias de culto na dispensação do Evangelho, estão: o local de culto, horário, duração e ordem do culto, móveis, iluminação, aquecimento ou ventilação, som, microfones, etc. Nenhuma dessas coisas deve adquirir conotação religiosa”. Conforme:  http://www.ipcpa.org.br/culto.php

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