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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

USOS E COSTUMES. A IGREJA PODE DITAR A MODA?


Em um bairro do Recife havia uma loja cuja placa anunciava em letras garrafais: "Vendemos Roupas Evangélicas".  Infelizmente não fotografei. A loja passou por uma reforma e a placa foi substituída. Minha ingenuidade, porém, me levava a acreditar que aquela loja era um caso atípico, isolado, uma aberração. Ledo engano. Esse nicho de mercado cresce a todo vapor. Basta uma rápida busca no Google e logo surgirão site especializados em "moda evangélica". O tema já foi até reportagem da revista veja:

Dá para conciliar preceitos religiosos rigorosos com o gosto brasileiro por roupas vistosas? Cerca de 15 milhões de evangélicas, uma multidão que, na hora de compor o guarda-roupa, segue mais ou menos ao pé da letra (ou melhor, da tradição, já que textos religiosos raramente entram em tais detalhes) as doutrinas da sua igreja, tentam fazer isso. De modo geral, o código de vestuário das religiões evangélicas reza o seguinte: calça comprida, não; decote, também não; saia, abaixo do joelho; transparências, nem pensar; mangas, sempre, conforme: http://veja.abril.com.br/040804/p_146.html. 

Possivelmente me acusarão de exagerado, mas essa tendência pode ser também sintomática. Cada vez mais as pessoas estão deixando de ser "evangélicas", no sentido mais restrito da palavra, que significa uma profunda identificação com o genuíno evangelho de Cristo. Como suas ações já não mais denunciam sua fé, restando-lhes apenas a vaga necessidade de pertencer a uma "tribo", nada melhor que uma grife que diga o que seu testemunho não consegue mais dizer:  "sou da tribo dos evangélicos".

Será que Jesus, em seu tempo, usava roupas de alguma grife especializada para religiosos? Havia roupas especias para "apóstolos"?

Claro que não! Tanto Jesus quanto os Apóstolos, bem como todos os outros discípulos, homens e mulheres que seguiam a Jesus, usavam as roupas habituais para sua época.  Evidentemente que àquela época também havia roupas inapropriadas para os servos de Deus, mas, de forma geral, suas roupas seguiam o mesmo padrão do restante do povo. Jesus, algumas vezes, precisou se ocultar, provavelmente no meio do povo, para livrar-se de ser apedrejado (Jo 8:59; Jo 10:30,31,39). Certamente ele não teria conseguido passar desapercebido se utilizasse indumentárias diferentes das que o povo usava. Isso pode ser verificado também quando Judas o entregou. Foi necessário um sinal (o beijo) para que os guardas identificassem Jesus, tal sua semelhança com as outras pessoas. Judas o beijou como quem quisesse dizer "o homem é este".

Preocupavam-se os principais sacerdotes e os escribas em como tirar a vida a Jesus; porque temiam o povo.    Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze. Este foi entender-se com os principais sacerdotes e os capitães sobre como lhes entregaria a Jesus;  Falava ele ainda, quando chegou uma multidão; e um dos doze, o chamado Judas, que vinha à frente deles, aproximou-se de Jesus para o beijar.  Jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem? (Lucas 22:1-48).

A ideia de utilização de roupas diferenciadas em relação ao povo e à época como forma de distinção e de separação religiosa é bem antiga. No Velho Testamento encontramos a indicação de paramentos religiosos para os Sacerdotes. Mas tudo isso mudou com o "véu que se rasgou". No Novo testamento essa ideia de "separação por moda" já não existe mais. A igreja Católica Apostólica Romana, na idade média,  retomou o uso de paramentos eclesiásticos como forma de distinção religiosa.

Os pentecostais fazem o mesmo. Se observarem bem na reportagem da revista Veja, acima, perceberão que a "moda evangélica" em questão está diretamente relacionada com as "vestimentas Pentecostais", o que mais uma vez prova sua aproximação ideológica com a Igreja Católica Romana. As santas de lá, certamente, servem como inspiração e modelo para a "grife gospel" de cá. Desculpem o anacronismo, mas, já viram alguma santa da igreja Católica de calça comprida? Da mesma forma não verão calças compridas nos catálogos das inúmeras lojas virtuais de "moda evangélica". Afinal, seu público alvo - as irmãs pentecostais - simplesmente não as podem usar; são proibidas pelo "esquadrão da moda pentecostal".

Essa semana o jornal matinal Bom Dia Pernambuco noticiou que algumas alunas de uma escola pública, que também fazem pate da igreja Assembléia de Deus, foram impedidas de entrar na escola porque estavam de "saia". O problema é que o fardamento da escola prevê o uso de calças compridas. Pronto, a confusão estava formada.

A direção da escola exige calça e os "estilistas" da Assembléia de Deus, saia.

Não estamos discutindo aqui sobre o direito constitucional de culto, liberdade de expressão e religiosa que essas irmãos, certamente, têm. Nosso foco se restringe à pergunta retórica:

A igreja pode ditar a moda?

             Não  deixe de ver o vídeo da reportagem:

Penso que só Deus deve ser o senhor de nossas consciências. Nenhum líder religioso, nenhuma igreja tem o direito de normatizar nossas vidas com suas regrinhas humanas. Somos livres, inclusive para decidir o que vestir e o que não vestir. Paulo, escrevendo aos Gálatas, deixa claro a existência dessa antiga tendência, presente nos religiosos e nas religiões, de colocar algemas invisíveis na mente das pessoas, tal qual ocorre com as irmãs da Assembléia de Deus. Diz ele: "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho,  o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.   Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gálatas 1:6-8).

Mas, e a Bíblia? Não se pronuncia com relação ao que se deve vestir? Existe algo do tipo "moda dos eleitos" na Bíblia? Obviamente que não. Porém, as Escrituras trazem alguns princípios que devem nortear nossas vidas quanto a esse assunto. Por eles, devemos deixar de usar roupas provocantes, sensuais, indecorosas. Devemos nos vestir de forma recatada. Os teólogos de Westminster, interpretando o sétimo mandamento (não adulterarás), nos trazem algumas informações importantes quanto a esse assunto. Vejamos as perguntas 137 e 138:

Pergunta 138: Quais são os deveres exigidos no sétimo mandamento? Resposta:  Os deveres exigidos no sétimo mandamento são a castidade no corpo, entendimento, afetos( I Ts 4. 4,5), palavras( Ef 4. 29; Cl 4. 6) e comportamento(I Pe 3. 2, e a preservação dela em nós mesmos e nos outros( I Co 7. 2; Tt 2. 4,5); a vigilância sobre os olhos e todos os sentidos( Mt 5. 28); a temperança( Pv 23. 31,33; Jr 5. 7), a conservação da sociedade de pessoas castas( Pv 2. 16,20; I Co 7. 9), a modéstia no vestuário( I Tm 2. 9) [...]. Pergunta 139: Quais são os pecados proibidos no sétimo mandamento?  Resposta:  Os pecados proibidos no sétimo mandamento, além da negligência dos deveres exigidos( Pv 5. 7; Pv 4. 23,27), são [...] o comportamento imprudente ou leviano; o vestuário imoderado ( Pv 7. 10,13,14) [...].

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A BELEZA E A ARTE DE UM HOMEM E UMA RETROESCAVADEIRA


Estética é a parte da filosofia que estuda, de modo geral, o belo, a arte. Daí surge uma pergunta: o que é o belo? O que é a arte? Diríamos, parafraseando grandes pensadores, como Kant, que algo é belo e igualmente arte quando nosso sentimento é invadido pouco a pouco até ser completamente tomado por aquilo que estamos vendo ou ouvindo. Isso é arte, isso é belo.

Em uma atuação conjunta improvável nasce a  arte e o belo. Homem e Máquina interagindo na produção de um grande espetáculo. Veja no vídeo abaixo o Ballet protagonizado por um Homem e uma Retroescavadeira:   

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O ATENTADO DE 11 DE SETEMBRO DE 2001 E O SEXTO MANDAMENTO: NÃO MATARÁS



Onze anos depois, hoje, dia 11/09/2012, o mundo relembra, ainda estarrecido, o maior atentado terrorista de todos os tempos. Sua magnitude foi sem precedentes na história.

Após o atentado de 11 de setembro de 2001, quando dois aviões tomados por terroristas suicidas, ligados ao Islamismo, colidiram com o maior símbolo econômico dos Estados Unidos, as duas torres do World Trade Center em Nova York, matando milhares de pessoas inocentes de diversas nacionalidades, o EUA decretou a chamada “Guerra ao terror”, ao “eixo do mal”. Relembre as cenas:



Na ocasião, depois dos ataques, o presidente Cristão George W. Bush (2001-2009) prometeu, em pronunciamento à nação pouco depois das 21h (22h em Brasília), "caçar e punir os responsáveis por esses atos covardes. Não faremos distinção entre os terroristas que cometeram esses atos e aqueles que lhes dão guarida", disse ele. Conforme: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200107.htm.

Em última análise, o que temos aqui? Guerra entre religiões? De um lado, radicais Islâmicos invadem um território "Cristão",  derrubam dois prédios de particular significado e matam milhares de pessoas inocentes, cristãos em sua maioria, incentivados por seus pressupostos religiosos. Do outro, uma nação predominantemente Cristã, de origem protestante, declara guerra e mata outras centenas de pessoas.

Que mulçumanos matem motivados por questões religiosas não é nenhuma novidade (a julgar pela comemoração demonstrada no primeiro vídeo, acima). Afinal, em seu próprio texto sagrado - o alcorão - e também na sua tradição, há essa recomendação de matar os “infiéis” ou os não-mulçumanos: “Deus cobrará dos fiéis o sacrifício de seus bens e pessoas, em troca do paraíso. Combaterão pela causa de Deus, matarão e serão mortos” (Sura 9-111). E ainda: Fazei guerra, com sangue e extermínio, a todos que não crêem em Alá [...]. Quando encontrardes com os infiéis, matai-os (Hadith).

Dos Cristãos, porém, se espera outra atitude. Afinal, não foi o próprio Cristo, do qual se dizem seguidores, que ensinou a “amar os inimigos”, no sermão do monte?

Além disso, o sexto mandamento é bem claro: “Não matarás”.

“Não se trata de desvios doutrinários como os que ocorreram com a igreja Católica, na idade média, levando-a a matar em nome de Deus. Trata-se, antes, de uma Religião que já nasceu com o propósito de eliminar o "infiel" (não-mulçumano). Conforme: http://filosofiacalvinista.blogspot.com.br/2011/03/islaminsmo-religiao-que-mata-e-possivel.html .

A questão que se levanta é a seguinte:

Não teriam os Cristãos direito à legítima defesa? Um país Cristão ou simpático  a esses pressupostos, como os EUA, por exemplo, não poderia revidar tamanha afronta? Não pode uma "nação cristã" utilizar-se de poderia bélico para defender-se e defender seu povo, sem quebrar o sexto mandamento?

A grande dificuldade de entendimento dos preceitos Cristãos, bem como dos mandamentos, especialmente o sexto, “não matarás”, é a falta de distinção entre “obrigação pessoal” e “obrigação social”.

Enquanto indivíduo, no âmbito da “obrigação pessoal” o Cristão deve, realmente, “dar a outra face”. “Amar aos inimigos” e até mesmo “orar” pelos seus algozes perseguidores. O cristão também está proibido, nesse mesmo âmbito, pelo sexto mandamento, de tirar a vida de outrem. Ou seja, ele está proibido de fazer justiça com as próprias mãos. Essas são as obrigações a que todo Cristão está sujeito, sob pena de não sintonia com os ensinamentos de Cristo, com uma rara “exceção à essa regra”, como veremos mais adiante.

Contudo, no âmbito da “obrigação social” essa questão precisa passar por uma releitura. Portanto, nesse sentido, um “Estado Cristão” (ainda que Laico, mas que cultive, simpatize ou tenha maioria que preze pelos valores Cristãos) não está obrigado ao mandamento “Não Matarás”, que é essencialmente dirigido a indivíduos. Muito pelo contrário, se necessário for “matar para promover e proteger a vida”, mas somente com essa motivação, que é o grande objetivo do sexto mandamento, o Estado deve assim fazê-lo, incorrendo em grave erro, inclusive, o Magistrado Civil, se assim não proceder. 

A pergunta 136 de um importante Catecismo Cristão Protestante Reformado, conhecido como Catecismo Maior de Westminster, formulado no século XVII, pelos Puritanos, ensina de forma esclarecedora esse assunto:

Pergunta 136: Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?  Resposta: Os pecados proibidos no sexto mandamento são: O tirar a nossa vida (At 16. 18) ou a de outrem (Gn 9.6), exceto no caso da justiça pública (Nm 35. 31,33), da guerra legítima ( Dt 20. 1-20), ou da defesa necessária ( Ex 22. 2); a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida ( Mt 25. 42,43; Tg 2. 15,16); a ira pecaminosa( Mt 5. 22), o ódio( I Jo 3. 15; Pv 10. 12), a inveja( Pv 14. 30), o  desejo de vingança( Rm 12. 19); todas as paixões excessivas( Tg 4. 1; Ef 4. 31)  e  cuidados demasiados( Mt 6. 31,34); o uso imoderado de comida, bebida( Lc 21. 34), trabalho( Ex 20. 9,10)  e recreios( I Pe 4. 3,4); palavras provocadoras( Pv 15. 1; Pv 12. 18); a opressão( Is 3. 15; Ex 1. 14), contenda( Gl 5. 15), espancamentos, ferimentos( Nm 35. 16) e tudo o que tende à destruição da vida de alguém( Pv 28. 17 cf Ex 21. 18-36).”

Concluímos que, segundo essa interpretação, há algumas exceções em que o "Cristão" e o “Estado” podem matar

Mas, mesmo essas exceções, visam claramente atingir o objetivo maior do sexto mandamento: a preservação da vida.

Para o Cristão, no âmbito de sua “obrigação individual”, só e somente só, em caso de “defesa necessária” ou da chamada “legítima defesa”, também prevista na forma da Lei.

Para o Estado, entendido aqui como “cristãos no exercício de suas obrigações sociais”, mas não só,  a exceção aplica-se em casos de “justiça pública” (pena de morte, que consiste basicamente em eliminar, após justo julgamento, o assassino, que quebrou individualmente o sexto mandamento,  da sociedade, visando o bem estar e proteção da vida dos cidadãos) e “guerra legítima”.

Esclarecidos esses fatos, a dificuldade agora é julgar se a chamada “guerra ao terror” foi legítima ou não. O que você acha? Comente, deixe sua opinião.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O AMOR LIMITADO DE DEUS - Parte 4 (final)



A consequência lógica da antropologia Agostiniana só pode ser uma: o amor limitado de Deus. Evidentemente que esse termo precisa ainda ser esclarecido. Quando dizemos “amor limitado” de Deus, não estamos querendo reduzir algo que, por si só, é infinito. Mas queremos dizer que a destinação eterna desse “amor salvífico” tem caráter específico e não contempla toda a raça humana, antes, pelo contrário, contempla apenas, só e somente só, o número exato daqueles que foram eleitos “antes da fundação do mundo” para a salvação. Nenhum a mais, nenhum a menos. Para esses, e somente para esses, repetimos, o “amor salvífico” de Deus não teve limites, chegando ao ponto extremo de entregar seu unigênito Filho para morrer no lugar deles. “O amor salvífico de Deus é limitado na medida em que atinge, por pura vontade Soberana do próprio Deus, somente os eleitos, tirando-os da condição de perdição que um dia se meteram, em Adão, por vontade livre, e não tirando o restante da raça humana desse estado de justa condenação eterna, mas apenas deixando-os onde, naturalmente, sua natureza decaída tem prazer em estar: distante de Deus. Por outro lado, o amor salvífico de Deus é ilimitado porque não mede esforços para salvar os predestinados”.

Para Agostinho, sendo o homem incapaz de qualquer bem por si só, estando com sua natureza corrompida e totalmente depravado, resta-lhe tão somente esperar o favor não merecido da graça divina. A partir desse ponto, e como consequência lógica e racional de sua antropologia, ele desenvolve seu conceito de predestinação. Essa doutrina, embora tenha suas bases firmadas em escritos paulinos, é a alternativa racional encontrada por Agostinho para resolver o problema da natureza decaída do homem.

Ora, se o homem, segundo Agostinho, não possui mais as condições para, por suas próprias forças, fazer qualquer bem que concorra para a reabilitação de sua própria natureza e considerando ainda que a revelação escriturística o fazia entender que nem todos, por mais que tentassem, alcançariam tal reabilitação, Agostinho avança, para a única conclusão cabível como desfecho de sua antropologia, para a única alternativa de reabilitação da alma decaída, isto é, a predestinação. Agostinho chega à conclusão que, na eternidade, Deus teria escolhido alguns homens para agraciá-los com essa graça salvífica, não por merecimento, pois, por merecimento todos deveriam, justamente, perecer eternamente na condição decaída, como ele mesmo afirma:

Esses testemunhos demonstram a concessão da graça de Deus não em atenção aos nossos merecimentos. Às vezes verifica-se a concessão não somente faltando merecimentos, mas existindo desmerecimentos prévios (AGOSTINHO. A graça. p.37).

No segundo volume de sua obra “A graça” Agostinho desenvolve de forma clara e inequívoca, não somente as bases de sua soterologia, mas, sobretudo, o desfecho lógico de sua antropologia, diz ele:

Procuremos entender a vocação própria dos eleitos, os quais não são eleitos porque creram, mas são eleitos para que cheguem a crer. O próprio Senhor revela a existência desta classe de vocação ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo 15: 16). Pois, se fossem eleitos porque creram, tê-lo-iam escolhido antes ao crer nele e assim merecerem ser eleitos. Evita, porém, esta interpretação aquele que diz: Não fostes vós que me escolhestes. Não há dúvida que eles também o escolheram, quando nele acreditaram. Daí o ter ele dito: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, não porque não o escolheram para ser escolhidos, mas para que o escolhessem, ele os escolheu. Isso porque a misericórdia se lhes antecipou (Sl 53:11) segundo a graça, não segundo uma dívida. Portanto, retirou-os do mundo quando ele vivia no mundo, mas já eram eleitos em si mesmos antes da criação do mundo. Esta é a imutável verdade da predestinação da graça. Pois, o que quis dizer o Apóstolo: Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo?(Ef 1:4). Com efeito, se de fato está escrito que Deus soube de antemão os que haveriam de crer, e não que os haveria de fazer que cressem, o Filho fala contra esta presciência ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi. Isto daria a entender que Deus sabia de antemão que eles o escolheriam para merecerem ser escolhidos por ele. Consequentemente, foram escolhidos antes da criação do mundo mediante a predestinação na qual Deus sabia de antemão todas as suas futuras obras, mas são retirados do mundo com a vocação com que Deus cumpriu o que predestinou. Pois, o que predestinou, também os chamou com a vocação segundo seu desígnio. Chamou os que predestinou e não a outros; predestinou os que chamou, justificou e glorificou (Rm 8:30) e não a outros com a consecução daquele fim que não tem fim. Portanto, Deus escolheu os crentes, mas para que o sejam e não porque já o eram. Diz o apóstolo Tiago: Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? (Tg 2:5). Portanto, ao escolher, fá-los ricos na fé, assim como herdeiros do Reino. Pois, com razão, se diz que Deus escolheu nos que crêem aquilo pelo qual os escolheu para neles realizá-lo. Pergunto: quem ouvir o Senhor, que diz: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, terá atrevimento de dizer que os homens têm fé para ser escolhidos, quando a verdade é que são escolhidos para crer? A não ser que se ponham contra a sentença da Verdade e digam que escolheram antes a Cristo aqueles aos quais ele disse: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (AGOSTINHO. A graça. p.194,195).

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O AMOR LIMITADO DE DEUS - Parte 3



Dando continuidade à série de postagens sobre “O amor limitado de Deus”, dessa vez estaremos abordando a questão a partir do pensamento do grande filósofo medieval Agostinho de Hipona.  O debate em torno da questão conceitual do binômio  “homem e liberdade” é de vital importância para o esclarecimento desse assunto. Ouso dizer que, não entendendo quem é o homem diante de Deus, não há como avançar nem mais um centímetro na compreensão da Sotereologia Agostiniana/Reformada, portanto, bíblica.

INTRODUÇÃO

Agostinho, ao longo de sua vida, se envolveu em várias controvérsias, por conta de sua aguçada veia apologética. Dentre elas, aquela que foi a mais importante, no que diz respeito à questão da liberdade,  foi o embate travado com Pelágio, por volta de 411 a 412, em Cartago. Pelágio era um monge Britânico, eunuco, natural da Irlanda, que se engajou em intenso conflito contra Agostinho, numa questão que envolvia basicamente o problema do livre-arbítrio e da liberdade.

A ANTROPOLOGIA PELAGIANA

Para Pelágio, o homem continuava habilitado, mesmo depois da queda, a fazer o bem se assim desejasse e que não se fazia necessário uma assistência especial da graça de Deus para que o ser humano O obedecesse.

Ele acreditava que o homem estava habilitado para atender a todos os chamados de Deus e quando Ele o convoca a arrepender-se é porque o homem pode fazer isto, por ele só, sem que seja necessário o auxílio da graça divina; caso contrário, Deus não o haveria ordenado, pois não ordena nada que seja impossível.

As principais reivindicações pelagianas estão diretamente relacionadas à sua antropologia, ao seu conceito de homem, como afirma Sprol, fazendo a seguinte observação acerca da antropologia de pelágio:

Pelágio, destituído da ideia do todo orgânico da raça ou da natureza humana, via Adão meramente como um indivíduo isolado; ele não deu a Adão nenhum lugar representativo, logo seus atos não acarretavam consequências além de si mesmo. Em sua visão, o pecado do primeiro homem consistiu de um único e isolado ato de desobediência ao comando divino [...]. Esse ato de transgressão único e desculpável não gerou consequências à alma e nem ao corpo de Adão, muito menos à sua posteridade, onde todos se mantém ou caem por si mesmos (SPROL, 2001, p.35).

Fica claro no pensamento pelagiano uma visão positiva acerca do homem e isso influencia todo o restante da sua construção intelectual. Para ele a queda do homem não trouxe para si uma repentina destruição, muito menos ainda para sua descendência, como denuncia o próprio Agostinho:

O homem pelagiano goza de perfeito equilíbrio moral. O pecado não atinge sua natureza, mas seu mérito. Quando peca, torna-se culpável de sua má ação. Perdoado volta à sua perfeição. Não é prisioneiro de uma inclinação mórbida para o mal (AGOSTINHO. A graça, 1999. p.105).


A ANTROPOLOGIA AGOSTINIANA

Agostinho discordava de Pelágio essencialmente quanto à sua antropologia, de tal forma que as outras discórdias adviam dessa.

Diferentemente de Pelágio, Agostinho entendia que a queda trouxe consequências extremante severas para o primeiro homem; e não somente para ele mas também para toda sua descendência. Ele não o via como um indivíduo isolado mas, essencialmente, como o representante legal de toda a raça humana, como afirma: “Deus, autor das naturezas, não dos vícios, criou o homem reto; mas o homem, depravando-se, por sua própria vontade, e justamente condenado, gerou seres desordenados e condenados (De Civ. Dei, XI, 27).

Para Agostinho, com a queda, em certo sentido, veio também uma privação da liberdade, isto é, o homem que outrora não tendia nem para o bem nem para o mal, depois da queda, adquiriu certa tendência para o mal, passando a conviver com uma natureza pecaminosa que passa a seus herdeiros de forma hereditária, ou seja, essa natureza passa a habitar no homem, coisa que inicialmente não existia. A morte física vem também ao homem depois e só depois da queda e como consequência dela.

Agostinho afirma de forma bastante clara que o pecado corrompeu a natureza humana, criada por Deus, sem vicio nenhum, e não somente seu mérito, como pensava Pelágio. Esse ponto de seu pensamento é essencial para entendermos sua antropologia. Devemos ficar atentos para seu pensamento de que o homem foi criado com uma natureza boa, sem nenhuma propensão ao mal, ao pecado e que esta natureza foi, de fato, modificada, acrescentada, depois da queda com uma mórbida tendência à concupiscência, como afirma,

A natureza do homem foi criada no princípio sem culpa e sem vício. Mas a atual natureza, com a qual todos vêm ao mundo como descendentes de Adão, tem agora necessidade de médico devido a não gozar de saúde. O somo Deus é o criador e autor de todos os bens que ele possui em sua constituição: vida, sentidos e inteligência. O vício, no entanto, que cobre de trevas e enfraquece os bens naturais, a ponto de necessitar de iluminação e de cura, não foi perpetrado pelo seu criador, ao qual não cabe culpa alguma. Sua fonte é o pecado original que foi cometido por livre vontade do homem. Por isso, a natureza sujeita ao castigo atrai com justiça a condenação (AGOSTINHO. A trindade, 1995, XIV, 15).

E ainda:

A alma não pode conceder a si mesma a justiça que uma vez recebida não mais a possui. Recebeu-a quando foi feita criatura humana e perdeu-a, em consequência do pecado (AGOSTINHO. A graça, 1999. p.114).

Podemos resumir o entendimento de agostinho acerca do homem em quatro fases distintas:

a)     Capacidade para pecar, capacidade para não pecar (posse peccare, posse non peccare);
b)   Incapacidade para não pecar (non posse non peccare);
c)    Capacidade para não pecar (posse non peccare);
d)   Incapacidade para pecar (non posse peccare).

O primeiro estado corresponde ao estado do homem na inocência, antes da Queda; o segundo estado do homem natural após a Queda; o terceiro estado do homem regenerado; e o quarto do homem glorificado.

Homem Pré-Queda
Homem Pós-Queda
Homem Renascido
Homem Glorificado
capaz de pecar
capaz de pecar
capaz de pecar
capaz de não pecar
capaz de não pecar
incapaz de não pecar
capaz de não pecar
incapaz DE PECAR

A capacidade original do homem incluía tanto o poder para não pecar como o poder para pecar ( posse non peccare et posse peccare ). No pecado original de Adão, o homem perdeu o posse non peccare (o pode para não pecar) e reteve o posse peccare (o poder para pecar) - o qual ele continua a exercer. Na concretização da graça, o homem terá o posse peccare retirado e receberá o mais alto de todos, o poder para não ser capaz de pecar, non posse peccare (AGOSTINHO. Correction and Grace, XXXIII ).

Aqui está a chave para o entendimento da antropologia Agostiniana, que influencia sua visão de  moralidade e da ética.

Como fica claro, Deus, em sua essência bondosa, criou o homem bom e perfeito e lhe dotou da maior dádiva de todas, só concedida ao homem: a liberdade, que é, em si, essencialmente boa. De sorte que o homem, no estado pré-queda é absolutamente livre, não tendendo nem mesmo para o bem, podendo escolher, sem nada que o sugestione, o bem e a felicidade eterna. Contudo, com a possibilidade de escolher o mal, a desobediência. Do contrário, onde estaria a liberdade?

Podendo ele escolher o bem, resolve deliberadamente escolher o mal. Acaso haveria culpa em Deus por ter concedido dádiva tamanha, tendo, inclusive, advertido o primeiro homem do perigo e consequências da desobediência? Caindo o homem, trouxe sobre si e sobre aqueles que representava legalmente, todos os males existentes, tornando-se não somente vítima de si mesmo, mas também merecedor e único causador de todos os males que lhe sobrevém, sendo sua culpa transmitida e imputada a todos os seus descendentes, que já nascem pecadores e que, por sua natureza amante do pecado, tem prazer no pecado. Segue-se, então, o plano redentivo de Deus para resgatar alguns homens e trazê-los de volta à felicidade, só que, dessa vez, no seu último estágio, sem a possibilidade de cair novamente.

Proximo ponto: A CONSEQUÊNCIA LÓGICA DA ANTROPOLOGIA AGOSTINIANA: A PREDESTINAÇÃO. Aguarde!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O AMOR LIMITADO DE DEUS - Parte 2



Expiação limitada

O terceiro e, talvez, o mais polêmico dos pontos do calvinismo - a Expiação Limitada -, foi formulado para combater a ideia de Expiação (redenção) Universal pura e na sua versão formulada pelos seguidores de Armínius. Para eles, a morte de Cristo foi extensiva a todos os homens, sem exceção.



Uma pergunta, porém, não quer calar: teria Cristo morrido, de fato, também por aqueles que passarão toda a eternidade no inferno?

Se a resposta a essa questão é afirmativa, então, devo concluir que o sacrifício de Cristo não foi tão perfeito e eficaz quanto o Deus trino pretendia? Devo concluir que Deus, ainda que tenha boa vontade em salvar todos os indivíduos, não tem poder suficiente para levar a termo a sua própria vontade?


Em favor de quem Cristo morreu? Morreu por todos? Quais foram aqueles em favor dos quais derramou Ele o seu sangue?  


A questão do propósito limitado da morte de Cristo (Expiação Limitada) tem sido alvo de inúmeras e intensas controvérsias. Certamente o nosso Senhor Jesus Cristo tinha alguma determinação absoluta em vista, quando subiu à cruz. Certamente tinha Ele um propósito bem definido, e, assim sendo, necessariamente, tinha que ser cumprido.


Se este propósito de Cristo incluísse a totalidade da humanidade, por certo, toda a humanidade teria que ser salva. E, isto, como sabemos, não ocorrerá!

Cristo não morreu para possibilitar a salvação de toda a humanidade, mas para assegurar a salvação de todo aquele que o Pai lhe deu (Jo 10:29). Cristo não morreu simplesmente para possibilitar o perdão dos pecados, mas para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb 9:26-28).

Propósito Limitado da expiação


O propósito limitado da expiação é uma conclusão lógica da escolha eterna. Se Deus escolheu alguns desde o princípio e se a vontade de Cristo era a vontade do Pai (Hb 10:7; Jo 6:38), nada mais óbvio do que chegarmos à conclusão de que
Cristo subiu naquela cruz apenas para salvar os que foram eleitos antes da fundação do mundo. Vejamos: Jo 6:37,39; 17:1,2,6,9 e 24.

Analisando a questão da expiação no V.T., em Levíticos 1:4-5 e outros textos, podemos ver que a culpa da pessoa era como que transferida para o animal. Aquele que oferecia o animal em sacrifício era considerado perdoado do seu pecado, da sua culpa. Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos para oferecer sacrifício, com sangue, por si e pelo povo (Lv 16:17-24, 23:28; Hb 9:7) e o povo era expiado, considerado perdoado. Diz-se que o animal expiou o pecado do povo, levando-o sobre si (Lv 16:21). De fato a expiação do V.T. era uma tipologia da morte de Cristo (GI 1:4; Hb 7:27; Rm 3:24-25).

Diante desses fatos bíblicos perguntamos: Em favor de quem foi oferecido este resgate? Ou quem foi expiado com a morte de Cristo?

Se respondemos que tudo isto foi em prol da raça humana inteira, então foi cancelada a divida de todo ser humano. Se Cristo levou sobre si o pecado de toda a raça humana, então ninguém mais perecerá; ninguém sofrerá a condenação final. Deus não pode exigir o pagamento de uma divida por duas vezes. Uma vez do fiador, que derramou seu sangue, e depois outra vez da mão do devedor. Ou teria o sacrifício expiatório de Cristo sido insuficiente?

O fato é que Cristo não saldou a dívida de todos (1 Pd 3:19; Jo 8:21; Mt 25: 41). Dizer que Cristo morreu por todos é dizer que foi substituto e fiador de toda raça humana. “Dizer que Cristo morreu por todos é dizer que Ele levou sobre si a maldição de muitos que agora levam sua própria maldição, é dizer que sofreu a punição de muitos que agora sofrem a sua própria punição no inferno”.

Por outro lado, dizer que foi ferido pelas transgressões do povo de Deus, que deu sua vida em resgate de muitos e que morreu pelas suas ovelhas é dizer o que dizem as escrituras. Vejamos alguns textos: Ef 1:4,5;Jo 10:16; 13:1; 17:19; 10:11; 11:49-52; At 20:28; Mt 20:28 Is 53:8.

Quando Cristo deu a sua vida na cruz do Calvário, deu-a por suas ovelhas, os eleitos! Não são todos os homens que estão incluídos na expressão “minhas ovelhas”. Portanto, Cristo não deu sua vida por todos os homens. Aos que estavam ao seu redor, ele disse: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10:26).


Os reprovados, os não-eleitos, os descrentes não estão incluídos no número daqueles por quem Cristo deu a sua vida. Ele morreu só pelas suas ovelhas” (SPENCER, 1992. p.39).

domingo, 29 de julho de 2012

O AMOR LIMITADO DE DEUS - Parte 1


O amor de Deus não é tão "grande e ilimitado" assim como muitos pensam. Se Ele quisesse salvar a todos, poderia? Obviamente que sim. Afinal, Deus é Soberano. Ele pode absolutamente tudo que quiser. Por que não salva, então? Seria porque algumas pessoas são incrédulas? Porque algumas pessoas têm um coração duríssimo? Ou ainda não salva porque outras pessoas são blasfemas e não querem saber Dele?

Evidentemente que é de se esperar que pessoas de coração tão duros e ímpios e que rejeitam a bondade da qual seriam alvo, de forma tão acintosa, sejam excluídas ou recebam algum tipo de punição ou ainda que deixem de ser alvo desse amor que seria disponibilizado para elas. Geralmente agimos assim. Somos naturalmente vingativos. Somente as pessoas "merecedoras" se tornam alvo do nosso amor. Mas, com Deus não deveria ser diferente? Ele não poderia, e até "deveria", relevar os desmandos e desvios de todas as pessoas, e, assim, salvar a todos indistintamente? É isso que ocorre? Todos serão salvos? 

Muitos Universalistas acreditam que sim. Acreditam que, por Sua misericórdia e bondade, Deus aceitará a todos e não deixará que nenhum se perca, independentemente de exercerem fé ou não. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu por todos sem exceção". 

Apesar de ser o universalismo um pensamento muito simpático e favorável a nós, transgressores inveterados da Lei de Deus, ele foi considerado como herético no concílio de Constantinopla em 543 d.C. Apesar disso, é defendido pela maioria dos teólogos liberais e seus simpatizantes. Ainda que alguns textos bíblicos pareçam sugerir tal expiação universal, entendidos, obviamente, fora do contexto geral das Escrituras, essa ideia é realmente insustentável. Afinal, a bíblia fala da existência de réprobos quanto à fé, isto é, de pessoas que não serão salvas e que terão o inferno como destino e castigo eterno.

Outra corrente teológica que reflete sobre a extensão do amor de Deus é a corrente Arminiana. Essa evolução do Pelagianismo, diferentemente do universalismo, entende que, realmente, nem todos serão salvos necessariamente; porém, todos poderão ser salvos, se quiserem. O problema é que muitos não querem. Para eles, a salvação é um grande "self-service" de possibilidades. Ou seja, Jesus morreu não para salvar efetivamente, mas para possibilitar a salvação de quem quiser ser salvo. Ele fez a parte Dele, cabe ao homem agora servir-se e apropriar-se dessa salvação através da sua fé. O homem, nesse caso, é agente completamente ativo na sua própria salvação. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu por todos que quiserem ser salvos".



Um dos textos preferidos dos Arminianos é João 3:16, que diz: "Porque Deus o amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça mas tenha a vida eterna". 

Curiosamente os arminianos alternam seu entendimento em relação à extensão do amor de Deus entre uma rápida e discreta passagem pelo universalismo e a limitação "camuflada" desse amor, muito embora não  admitam abertamente nenhum nem outro. Por exemplo, pela expressão do texto acima, "Deus amou o mundo", eles costumam entender que é um amor extensivo ao mundo inteiro, realmente. Isto é, a todas as pessoas. Porém, se perguntarmos a um bom arminiano se todos serão "necessariamente" salvos, dirá que não. Por outro lado, a expressão no mesmo texto acima "todo aquele que Nele crê" é altamente limitadora. Porém, se da mesma forma, perguntarmos a um bom arminiano se Jesus morreu apenas por alguns, eles negarão peremptoriamente. Apesar disso, não há como negar. Na visão arminiana, ainda que isso gere algum tipo de desconforto quando dito abertamente, o amor de Deus é limitado. E quem põe limite à ação extensiva do amor de Deus? O próprio homem, que decide não crer. É como se o homem sentenciasse soberanamente: "Deus, seu amor pode chegar até uma casa antes da minha, no meu vizinho; ele não deve chegar até a minha casa porque eu não permito; porque eu não quero". E Deus, na visão arminiana, obviamente, obedece ou ainda, como eles preferem dizer, respeita essa vontade do homem. 



Ora, parece claro que se o amor de Deus fosse "ilimitado e irrestrito" como, muitas vezes, supõem os próprios arminianos, deveria salvar até mesmo aquele que decide não querer crer.



Mas há ainda um terceiro grupo que se aventura a refletir séria e profundamento sobre o amor de Deus. São os Calvinistas. Esses, diferentemente dos universalistas e dos arminianos, defendem abertamente que o amor salvífico de Deus é limitado, extensivo e direcionado apenas a um grupo restrito de Eleitos. Sendo assim, admitem, sem o menor constrangimento, que os que "não são salvos" não o são porque o próprio Deus decidiu soberanamente que não seriam salvos e não porque simplesmente não quiseram crer. Ou seja, Deus decidiu eternamente tirar apenas alguns da perdição; o que pressupõe estarem todos nessa situação.

Por outro lado, admitem que  não há nada de diferente na natureza daqueles que serão salvos, em relação aos não salvos. Ou seja, os chamados "eleitos de Deus" não são intrinsecamente melhores que os não eleitos. Pelo contrário, todos são igualmente merecedores da ira de Deus, por conta de sua queda em Adão.

Estando todos caídos e mortos, espiritualmente falando, Deus, pela sua Graça, que por definição é fazer um favor a quem não merece, decide salvar alguns e derramar sobre esses - mas somente sobre esses - seu "infinito e ilimitado" amor salvífico, a ponto de sacrificar seu próprio Filho Jesus, exclusivamente por eles.  Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu apenas pelos seus eleitos". 

Um dos principais e mais polêmicos pontos da teologia Calvinista, geralmente sintetizada em cinco pontos, versa exatamente sobre essa questão. Sobre a "Expiação Limita". Limitada não no poder e importância, e, sim, na extensão e aplicabilidade dessa expiação. Esse ponto ensina de forma clara e aberta que Jesus não morreu por todos. Porque se Ele tivesse morrido por todos sem exceção, todos deveriam, necessariamente, receber a salvação, sob pena de não ter sido um sacrifício perfeito e eficaz. Ensina que quando Jesus subiu à cruz, sabia exatamente, por decreto e não simplesmente por presciência, por quem estava morrendo e sendo oferecido em sacrifício: tão somente por aqueles que foram predestinados por Deus, para a salvação, desde a eternidade. Segundo essa visão, nenhuma gota de sangue do salvador se perdeu. Ou seja, todos pelos quais Cristo morreu serão, indubitável e necessariamente, salvos eternamente, tendo tido seus corações transformados e regenerados para quererem e depois exercerem fé salvífica no sacrifício de Cristo. 

Na próxima postagem estaremos abordando de forma mais detalhada esse terceiro ponto do Calvinismo, a "Expiação Limitada". Aguardem. 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A PENA DE MORTE, O ABORTO E O NOVO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Você concorda com aplicação da Pena de Morte no Brasil? Provavelmente não. Pouquíssimas pessoas concordariam. Se você é cristão, nesse momento, deve estar pensando o seguinte: como alguém que se diz cristão quer defender a Pena de Morte? Deixe-me lhe fazer uma pergunta: você já estudou esse assunto à luz da Palavra de Deus? Não, não precisa responder. Sua resposta, se for uma resposta sincera, será um sonoro não. Mas não é essa a questão que quero abordar nesse post. Prossigamos:

Suponhamos, por alguns instantes, que você terá que decidir pela vida de dois homens. Depende de você. O que você escolher para viver, viverá. O que você escolher para morrer, morrerá. É apenas um exercício. Não se furte a participar dele. Você terá que escolher um deles para morrer. Claro que não é uma escolha fácil, nem boa. Mas, ela precisará ser feita neste exercício.

Faça essa escolha agora mesmo. Qual desses dois homens abaixo você escolheria para morrer?


Quer saber um pouco sabre a história deles antes de decidir? Nada mais justo e coerente. Vamos lá:

O primeiro homem:

Trata-se de Pedro Rodrigues Filho, mineiro, hoje com 58 anos de idade, mais conhecido como "Pedrinho Matador". Reconhece ter matado mais de 100 pessoas. Tem diversas tatuagens com a frase "mato por prazer". Cumpriu 34 anos de prisão, quatro a mais que o permitido pelas leis brasileiras. "Ninguém queria soltá-lo". Mas, lei é lei. Estava solto desde 2007, após cumprir sua "dura" pena. Hoje está preso novamente, desde 15/09/2011.

Se ainda não tiver elementos suficientes para optar por esse homem, veja a mais recente entrevista que deu ao jornalista Marcelo Resende e conheça um pouco mais de sua história. É justo, afinal, você terá que tomar uma decisão difícil:





O segundo homem:

Bom, esse homem ainda não tem história. 

Ele tem apenas alguns meses de vida intra-ulterina e só. Ele está correndo um grave risco de nunca ter uma história. Estão querendo tirar-lhe esse direito basilar. 

Você sabia que o anteprojeto de lei do novo Código Penal Brasileiro, elaborado por uma comissão de juristas, entregue ao presidente do Senado, José Sarney, no último dia 27/06/12, prevê, entre outras atrocidades, o aborto? Veja:

A principal inovação na legislação sobre aborto é que uma gestante poderá interromper a gravidez até 12 semanas de gestação, caso um médico ou psicólogo avalie que ela não tem condições "para arcar com a maternidade". Conforme: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/03/10/comissao-do-novo-codigo-penal-amplia-regras-para-aborto-legal-435436.asp.

Se não fizermos nada, certamente, esse anteprojeto será aprovado do jeito que está e passará a ser o novo Código Penal Brasileiro. Já parou para pensar na quantidade enorme de pessoas que morrerão por meio desse instrumento do "aborto legal"?

E você? Já fez sua escolha? Quem você escolherá para morrer? É apenas um exercício. Decida agora: Pedrinho Matador - o primeiro homem - ou o feto de 12 semanas da foto, o segundo homem?

O Brasil está muito próximo de fazer essa escolha. Os mesmos juristas e políticos que são radicalmente contra a pena de morte para assassinos como Pedrinho matador são radicalmente a favor do aborto.


Por que pode matar um e outro não, se a única diferença que existe entre eles, enquanto homens, é o tempo de vida?

Assista ao vídeo abaixo e não deixe de assinar a petição pública que será encaminhada ao presidente do congresso com a finalidade de não permitir esse verdadeiro infanticídio:


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