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sábado, 5 de novembro de 2011

PENTECOSTALISMO E REFORMA PROTESTANTE: Pressuposto Ético - Parte III

             
O livro “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, do sociólogo ateu Max Weber, escolhido como o livro de não ficção mais importante do século XX, por intelectuais como o antropólogo Roberto Damatta,  o filósofo Renato Janine Ribeiro e o economista Eduardo Giannetti, entre outros, a convite da Folha de São Paulo (04/1999), faz uma verdadeira radiografia da influência do Calvinismo no  mundo, sobretudo no que diz respeito à questões Éticas, Morais e Econômicas.

Na contramão do Marxismo, que julgava que as mudanças da economia possuíam como causas apenas fatores econômicos, Max Weber faz brotar uma nova interpretação para a antiga questão. Utilizando a metodologia comparativa entre diversas economias, chega à conclusão que as mais desenvolvidas possuíam um traço em comum: a predominância protestante calvinista nos cargos importantes.

Weber chega à conclusão que há algo no estilo de vida dos protestantes Calvinistas, em sua Ética, que favorece o que ele chama de “espírito do capitalismo”:

“A crença nessa sistematização doutrinária calvinista leva o “eleito” a um imenso sentimento de gratidão a Deus, uma vez que, mesmo sem merecer, recebe esta graça extraordinária. Dessa forma, coube aos puritanos, que se consideravam eleitos, viver a santificação da vida cotidiana. Pois o caráter sectário – a consciência de ser minoria e a motivação de ser eleito de Deus – fazia de cada membro dessas comunidades não mero adepto do rebanho mas, mas um vocacionado que se dedicava simultaneamente ao aprimoramento ético, intelectual e profissional” (WEBER, 2002. p.21).

É fato digno de registro  que um ateu observe a prática dos Calvinistas e reconheça que sua crença nas doutrinas da Soberania de Deus influencia de tal modo suas vidas a ponto de produzir  a necessidade de viver uma vida Ética, que pressupõe, acima de tudo, respeito às pessoas:

“O Deus de Calvino exigia de seus crentes não boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações combinadas em um sistema unificado” (WEBER, 2002. p.91).

Não quero me alongar nessa análise, pois retomamos esse assunto apenas como base comparativa daquilo que passaremos a abordar: a “ética” Pentecostal. Caso você se interesse por este assunto, o artigo completo sobre Max Weber está publicado no mês de março 2009 aqui no blog. É só localizar no “Arquivos do Blog”.

Finalizando essa parte introdutória, basta tão somente dizer que a contrapartida das pesquisas de Weber apontava como uma das causas da pobreza e da falta de crescimento intelectual das nações e economias colonizadas pelo Catolicismo Romano, o próprio modo de vida produzido pela Religião Católica, envolta em misticismos e crendices populares.

É exatamente aqui que entra o principal link entre a “ética” produzida pelo Catolicismo Romano e a “ética” produzida pelo Pentecostalismo.

Muito embora os mesmos traços de pobreza e do pouco crescimento intelectual, identificado por Weber nos católicos de diversos países, possam, facilmente, serem identificados, também, entre os pentecostais, como causa e também como conseqüência de sua prática religiosa, queremos aprofundar essa questão e ir além da passividade representada por essas duas características que, em nossa opinião, de forma geral, é uma produção mais peculiar da “ética” produzida a partir do entendimento doutrinário da fé Católica Romana. Como o Pentecostalismo em muito se assemelha ao Catolicismo Romano, como já demonstramos, acaba absorvendo, de tabela, essas influências. Contudo, não é esse o traço marcante na “ética” dos pentecostais.

O arcabouço doutrinário Pentecostal produz, antes, e de forma mais acentuada, o que chamaremos aqui, para fazer um contraponto com a idéia particularizada de “ética” do sociólogo Max Weber, de “Ética da Vantagem.  Isso mesmo. É característica peculiar do Pentecostal querer tirar vantagem de tudo e de todos.

A idéia de um contato, de uma comunicação direta com Deus, via “novas revelações”, produz, no Pentecostal, o efeito contrário que a doutrina da eleição incondicional produz no Calvinista. Faz dele uma espécie de “super-crente”, alguém que tem “poder”, alguém que tem um relacionamento diferenciado com Deus, o que o acaba tornando, inconscientemente, um crente soberbo. Enquanto a Eleição Incondicional, conseqüência direta da doutrina da Depravação Total do Homem, humilha o homem e o deixa consciente de sua inutilidade, comprovando que tudo que possui advem do favor divino, a doutrina da 2ª benção aliada ao semi-Pelagianismo, ao contrário, exalta o homem deixando-o prepotente e orgulhoso de si.

O resultado disso tudo não poderia ser outro: o Pentecostal entende que o mundo deve girar ao seu redor. Todas as coisas devem orbitar em sua volta. Pentecostal tem “o rei na barriga”. Mais que isso: Pentecostal se acha o próprio rei. E, por isso mesmo, ele não consegue enxergar o outro, respeitar o direito do outro, mas apenas seu alvo, que é conquistar o melhor, que é ter o melhor, aquilo que lhe é, supostamente,  de “direito”. Afinal, rei é rei!

Kenneth Hagin, muito embora não seja um legítimo representante do Pentecostalismo da primeira onda, apesar de ter tido dela toda a influência doutrinária, traduz de forma explícita e irrefutante o sentimento que paira no coração do Pentecostal que não teve nenhuma contato com a doutrina humilhante da Depravação Total do homem:

“Você não tem um deus no seu interior, você é um Deus. Uma réplica perfeita de Deus! Diga isso em alto e bom som, “eu sou uma réplica perfeita de Deus”! (A congregação repete um tanto insegura e sem jeito)...vamos digam isto! (Ele conduz a congregação em uníssono). Digam de novo! “Eu sou uma réplica de Deus!”- A congregação começa a se animar e o entusiasmo e o barulho aumentam cada vez que eles repetem a frase”. (NODA, 1997. p.23).

Por isso Pentecostal não respeita filas. Por isso Pentecostal acha que pode comprar e contratar serviços e não pagar. Por isso Pentecostal é péssimo empregado. Por isso Pentecostal é péssimo Patrão. Por isso Pentecostal é Péssimo vizinho. Por isso Pentecostal é péssimo marido. Por isso Pentecostal é péssima esposa. Por isso é cada vez maior o número de pessoas que repetem a já famosa frase “não faço negócio com crente”. Por isso  Pentecostal não assiste socialmente os membros de sua igreja, levando muitos a terem que esmolar na porta da igreja dos outros.

Permita-me colocar o resultado empírico das minhas observações. Todos os dias, juntamente com outros cristãos católicos e espíritas e até ateus, preciso esperar pacientemente o ônibus para ir trabalhar. Ao “entrar na bandeira” o coletivo, não é raro você perceber que algumas poucas pessoas têm a cara de pau de passar na frente e “furar a fila”, como se diz aqui no Nordeste. Um olhar mais treinado e pesquisador, vai  perceber rapidinho que no meio dos “furões” está sempre uma irmã Pentecostal, notadamente reconhecível por sua grife de “crente”, com cocó e tudo mais ou um irmão falastrão com ar de pseudo piedade.  

Outro dia, pasmem, numa pequena fila de frios de um supermercado alguém passou na frente de todo mundo e fez o seu pedido. Imaginei na hora: “deve ser um Pentecostal”. Na mosca. Mais uma vez comprovada minha teoria da “Ètica da vantagem”. Ei, irmão: você é Pentecostal não é? Sim, como você percebeu? Pelas minhas vestimentas santas? Não, porque você “furou a fila”. Esse diálogo só existiu em minha mente, infelizmente. Não tive coragem de iniciar a conversa. Aprendi com meu pai que “quem tem vergonha não faz vergonha”. Mas que tive vontade, ah isso tive. São inúmeros os relatos que poderíamos citar aqui como prova empírica de nossa argumentação. Mas, deixarei para você, caro leitor. Caso você tenha sido testemunha ocular de alguma situação bisonha, por favor, nos conte como comentário. Servirá de subsídios para o aprofundamento da nossa pesquisa.

O vídeo abaixo, da variação Pentecostal que é o neopentecostalismo, é um bom exemplo disso que denominamos de “Ética da Vantagem” Pentecostal.


O antropólogo Sérgio Buarque de Holanda, no seu livro “Raízes do Brasil”, bem como o também antropólogo Roberto Damatta, em seu livro “O que faz o Brasil, Brasil?”, abordam um assunto bem interessante que, segundo eles, é traço marcante do povo brasileiro: o chamado “jeitinho Brasileiro”.

“O jeitinho brasileiro é a transgressão suave já institucionalizada e aceita como característica fundamental e indispensável para o simpático e alegre brasileiro legitimar o seu poder diante dos outros. O seu problema é sempre mais urgente que o do vizinho. E isso, claro que somente isso, justifica que você fure a fila do supermercado”. http://gargalo.wordpress.com/2008/05/28/um-jeitinho-mais-que-brasileiro/.  O "jeito" ou "jeitinho" pode se referir a soluções que driblam normas, ou que criam artifícios de validade ética duvidável. A expressão "jeitinho" no diminutivo em certos casos, assume um sentido puramente negativo, significando não só driblar mas violar normas e convenções sociais, uma forma dissimulada de navegação social tipicamente brasileira na qual são utilizados recursos como apelo e chantagem emocional, laços emocionais e familiares, recompensas, promessas, dinheiro, e outros ou francamente anti-éticos para obter favores para si ou para outrem, às vezes confundido ou significando suborno ou corrupção [...].Os adeptos do "jeitinho" consideram de alto status agir desta forma, como se isto significasse ser uma pessoa articulada, bem posicionada socialmente, capaz de obter vantagens inclusive ilícitas, consideradas imorais por outras culturas” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeitinho)

Assim como antes de Max Weber ninguém tinha atribuído fatores relacionados ao desenvolvimento econômico às questões religiosas, desconfio que os pesquisadores do chamado “jeitinho brasileiro” também estão esquecendo de abordar essa importante formuladora da prática cotidiana: a religiosidade. Talvez fosse exagero atribuir ao Pentecostalismo a origem desse famoso “jeitinho brasileiro”, que acabou contaminando a sociedade. Contudo, observando as definições acima, não é exagero nenhum dizer que os Pentecostais, no mínimo, contribuem grandemente para a perpetuação desse modo de viver.

A “Ética da vantagem” Pentecostal tem levado muitos irmãos a serem protagonistas de famosos escândalos. Só pra lembrar alguns: o caso de Sônia e Estevam Hernandes. A máfia dos sanguessugas, protagonizada por grande parte da bancada evangélica. O caso da oração de gratidão pela propina recebida de Leonardo Prudente e Rubens Brunelli.

Todos esses casos e tantos outros que não temos espaço para dizê-los aqui, têm algo em comum: a “presença predominante”, para usar uma expressão weberiana, de Pentecostais envolvidos.

Mas é verdade também que nem sempre os Pentecostais conseguem o que querem, mesmo usando todos os meios espúrios que usam. Pensam que eles se dão por vencidos? Na “Ética da vantagem Pentecostal” não tem espaço para derrotas. Eles continuam tentando. São incansáveis. Por isso os hospícios e sanatórios estão lotados de Pentecostais. Acha que estou exagerando de novo? Então visite um.

Nota: Esse artigo, bem como os outros da série Pentecostalismo e Reforma Protestante não está se referindo a indivíduos Pentecostais. É evidente que existem muitos Pentecostais, mas não a maioria, que são pessoas de bem e que têm um testemunho digno. Pessoalmente conheço alguns. Infelizmente não muitos. Da mesma forma não estamos querendo advogar que todo calvinista tem uma postura ética e moral ilibada. Evidentemente que existem alguns calvinistas que são uma vergonha. Contudo, estamos tratando de uma visão macro dessas relações religiosas. De forma que, de uma maneira geral e abrangente, por tudo que foi argumentado aqui, podemos afirmar: o calvinismo produz no seu crente uma postura ética e moral invejável e digna de registro até de ateus, como  é o caso de Max Weber, enquanto que o Pentecostalismo produz no seu crente o que chamamos aqui de “Ética da vantagem” Pentecostal.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PENTECOSTALISMO E REFORMA PROTESTANTE: Pressupostos doutrinários – Parte II


Não quero ser injusto. Nossa intenção aqui é tão somente compararmos os pressupostos doutrinários mais basilares da Reforma Protestante com os do Pentecostalismo. Só isso. O julgamento quem fará são nossos leitores. Julgarão se esses pressupostos possuem coerência entre si. Julgarão se eles são, de alguma forma, convergentes ou completamente divergentes, muito embora essa seja a nossa desconfiança.

Poderíamos analisar a questão em várias frentes mas, por questão de espaço, vamos abordar sinteticamente apenas os chamados “Cinco Solas da Reforma”. Evidentemente que não podemos esquecer do contexto histórico em que os Solas foram formulados, sob pena de graves deslizes. Contudo, assim como estamos convencidos que o Pentecostalismo é outra Reforma Religiosa, como já afirmamos na parte I dessa série, também estamos convencidos que o Pentecostalismo é o mais grave passo de retorno ao Romanismo. Sendo assim, o ambiente de nossa análise possui praticamente as mesmas características encontradas pelos Reformadores no século XVI, o que nos habilita a tomar emprestado os “Solas da Reforma” e aplicá-los diretamente à questão Pentecostal.

Sola Scriptura:  Somente a Escritura

Essa é, talvez, a bandeira mais importante defendida pela Reforma Protestante. Cair nessa é cair em gravíssimo erro. Ela significa que todas as práticas religiosas, doutrinas e cultos devem emanar “somente” das Escrituras Sagradas. Pressupõe também que toda e qualquer “nova revelação” e, portanto, extra-bíblica, deve ser rejeitada, pois a Escritura, o Canon fechado, os 39 livros do VT e os 27 do NT, são suficientes e inerrantes. 

Era assim que pensavam os reformadores. É assim que pensam os Reformados até hoje.  Agora, perguntamos: É assim que pensam os Pentecostais?

Até mesmo uma interpretação errada, por mais herética que seja, é minimizada diante dessa “opção consciente” de não ter a Escritura Sagrada como regra  exclusiva de fé e de prática.

Para os  pentecostais, assim como para os católicos, a palavra de Deus não é a ÚNICA regra de fé e prática. Os Católicos têm nas bulas papais e na tradição o mesmo valor de autoridade das Escrituras. Os Pentecostais, da mesma forma, nas NOVAS REVELAÇÕES, que podem vir por “profecias”, “sonhos”, ou através das “línguas estranhas”.  

Quantos casamentos feitos e desfeitos; quantas “visitas pessoais” do próprio Deus nos arraiais Pentecostais. Falam como se pela boca do próprio Deus: “eis que sou Deus que te digo varão”. Quebra flagrante do terceiro mandamento. É mais do que claro que “as novas revelações” possuem, para os pentecostais, status de regra de fé e de prática, posto que eles obedecem cegamente a “ordem de Deus”, vinda diretamente de um “vaso”. Bom seria se essa obediência se estendesse à voz de Deus publicada na bíblia. Mas não é esse o caso, infelizmente. Alguém poderia negar essa realidade?

Já a variação neopentecostal,  que pouco se utiliza das “manifestações de dons espetaculares” e que investe, principalmente, no exorcismo,  utiliza uma interpretação tão esdrúxula da Bíblia que a transforma em palavra de qualquer pessoa, menos de Deus.

O pressuposto Pentecostal de “Escritura também” pode causar a falsa impressão de similaridade com o pressuposto da Reforma, mas são diametralmente opostos. “Escritura também” pode ser, e tem sido em muitas ocasiões, traduzido por “Somente Novas Revelações, nada de bíblia”. Permita-me ilustrar o que acabamos de argumentar: há muitos anos atrás, em nossa igreja, uma irmã envolvida com o Pentecostalismo recebeu a seguinte revelação: “seu atual marido não é o que Deus escolheu para você”. Essa mesma “profecia” foi levada pela mesma “profetisa” (pessoa com grande reconhecimento no meio pentecostal, possua cargo ou não) a um membro da igreja Assembléia de Deus: “vaso, a sua atual esposa não é a mulher que Deus escolheu pra você”. Resultado: ambos deixaram seus cônjuges e passaram a viver maritalmente “felizes para sempre”. Detalhe: a tal profetisa conhecia os dois pombinhos. Lembro que o conselho da igreja listou uma série incalculável de versículos bíblicos para aquela irmã, na esperança de fazê-la entender o quanto estava enlameada com o pecado de adultério. Sua resposta a cada versículo era: “esse eu já sei decorado, mas nada vai fazer eu mudar de idéia porque eu tenho a confirmação da revelação de Deus na minha vida”. É ou não é “somente nova revelação e bíblia nada”? Ela foi disciplinada, saiu da nossa igreja e foi fazer parte de uma igreja Pentecostal com seu novo parceiro "canela de fogo". 

Diante disso, podemos afirmar: o pressuposto Pentecostal que contrasta com o “Sola Scriptura” é: “Escritura também, mas não só Escritura”.

Esse pressuposto Pentecostal pode até estar correto e o da Reforma Protestante errado. Mais uma coisa é certa:  são completamente diferentes. Além disso, são auto-excludentes. Não há possibilidade de conciliação entre eles.
  
Sola Fide: Somente a Fé

Significa que o perdão dos pecados e, conseqüentemente, a justificação, advêm tão somente pela fé no sacrifício vicário de Cristo e não por obras meritórias.

Martinho Lutero baseou sua vida nesse princípio para lutar contra os desmandos da ICAR e, principalmente, contra a venda de indulgências, que é a venda de benefícios espirituais, do perdão ou mesmo de uma benção. Ao ler a epístola de Romanos 1:17 “O justo viverá da fé”, Lutero teve seus olhos desvendados para a realidade de que não pode negociar benesses com Deus, antes, pelo contrário, elas devem ser recebidas pela fé somente, sendo fruto da preciosa graça de Deus. Fé esta, aliás, outorgada pelo próprio Deus aos seus eleitos.

Era assim que pensavam os reformadores. É assim que pensam os Reformados até hoje.  Agora, perguntamos: É assim que pensam os Pentecostais?

Rui Barbosa, no prefácio do livro “O Papa e o concilio”, referindo-se à venda de indulgências pela ICAR, na idade média, chega a dizer que não se respeitava nem mesmo os pontos mais melindrosos da Fé. Diz ele: “É só jogar o dinheiro na caixa que, no mesmo instante, as almas que estão no purgatório escapam, e que todos deveriam comprar o perdão da alma de seus entes queridos, e ainda que tivessem uma só veste, deveriam despi-la, logo e já, para comprar benefícios tamanhos”.

Os pentecostais são os responsáveis por ressuscitarem a famigerada idéia de indulgência. A troca de dinheiro por benefícios divinos é evidente, sobretudo em sua vertente neopentecostal, que se utiliza, também de muitos símbolos físicos como “unção com óleo”, “pulseiras da vitória”, “rosa ungida” e muitos outros, afastando por completo a idéia de “pela fé somente”. Mas, esse não é um privilégio apenas dos neopentecostais. Um dos mais proeminentes representantes do “Pentecostalismo tradicional ou original”, Silas Malafaia, também enveredou pela negação do “Sola Fide”. Em um vídeo muito famoso, também publicado no filosofiacalvinista sobre o título “A indulgência eletrônica de Malafaia e Murdock”, fez as seguintes afirmações, que o reaproximam e junto com ele o Pentecostalismo, mais uma vez, ao Romanismo e dessa feita em suas característcias mais graves: o Romanismo pré-reforma:

“E quando mais rápido a semente entrar no solo uma colheita começa a crescer”. Essa afirmação é uma referência a uma oferta “voluntária” de R$ 1.000,00 pedida pro Malafaia e Murdock.

Que outros benefícios essa oferta traria? Pasmem. Essa frase da dupla Malafaia/ Murdock é completamente  indiscutível:

“Salvação para membros da família" (é uma referência a um dos benefícios adquiridos por quem pagar a indulgência, ou melhor, a "oferta voluntária" de R$ 1.000,00).

Agora compare com o que disse Rui Barbosa acerca da venda de indulgência, pela Igreja Católica Romana pré-reforma, que reproduzimos acima, com a Indulgência Eletrônica (porque poderia ser até dividia no cartão) de Malafaia e Murdock. É ou não é a mesmíssima coisa?

Isso não é simplesmente um desvio de conduta de um Pentecostal. É, antes, uma conseqüência mais ou menos lógica e previsível dos desdobramentos da negação dos princípios basilares da Fé Reformada, que é, na verdade, o cerne do Pentecostalismo.

Diante disso, podemos afirmar: o pressuposto Pentecostal que contrasta com o “Sola Fide é: “Fé em Deus, mas também Fé no esforço do homem”.

Esse pressuposto Pentecostal pode até estar correto e o da Reforma Protestante errado. Mais uma coisa é certa:  são completamente diferentes. Além disso, são auto-excludentes. Não há possibilidade de conciliação entre eles.

Solus Christus:  Somente Cristo.

Significa, em última análise, que não necessitamos de mais absolutamente nada além do Sacrifício substitutivo de Cristo Jesus, para a salvação. Implica que aquele que é salvo o é única e exclusivamente pelo sacrifício de Cristo. Isto é, o eleito nada faz que possa contribuir para sua salvação.  De forma que a pregação numa Igreja Reformada  poderia, tranquilamente, fazer a seguinte exortação: “não tentem fazer nada para alcançar a salvação, pois isso lhes seria um esforço inútil, pois vocês nada podem fazer para alcançar a vida eterna, nem mesmo podem contribuir ou ajudar a Deus nessa tarefa”.

Era assim que pensavam os reformadores. É assim que pensam os Reformados até hoje.  Agora, perguntamos: É assim que pensam os Pentecostais?

O que aconteceria se essa exortação fosse feita em uma igreja Pentecostal?

Os pentecostais, pelo fato se serem semi-Pelagianos, não suportam a idéia da passividade face à doutrina da Salvação.  Não estou querendo afirmar que os Pentecostais não crêem em Cristo para a salvação. Isso seria absurdamente desonesto. O problema é que não depositam a confiança de sua salvação “Somente em Cristo”, como o pressuposto da Reforma Protestante, baseado na Bíblia, requer. É sempre Cristo+cabelos+“joelhos no chão”+roupas+“manifestações do espírito”+“prosperidade” (características da variação neopentecostal)+“santificação pessoal”, cujo conceito é extremamente parecido com o conceito Católico Romano, isto é, santo como sendo aquele que não peca. Essa similaridade é evidenciada também pelas roupas dos santos católicos e dos crentes pentecostais, que parecem proceder da mesma grife.  

O pressuposto Pentecostal de “Cristo também” também pode causar a falsa impressão de similaridade com o pressuposto da Reforma, mas são diametralmente opostos.

Diante disso, podemos afirmar: o pressuposto Pentecostal que contrasta com o “Solus Christus” é: “Cristo também, mas não só Cristo”.

Esse pressuposto Pentecostal pode até estar correto e o da Reforma Protestante errado. Mais uma coisa é certa: são completamente diferentes. Além disso, são auto-excludentes. Não há possibilidade de conciliação entre eles.
  
Sola Gratia: Somente a Graça

“Durante a Reforma, os líderes protestantes e os teólogos geralmente concordavam que a doutrina da salvação da Igreja Católica Romana seria uma mistura de confiança na graça de Deus e confiança no mérito de suas próprias obras, comportamento este chamado pelos protestantes de sinergismo” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sola_gratia), enquanto eles defendiam o monergismo, que significa que a salvação depende exclusivamente de Deus: no início, no meio e no fim.

Era assim que pensavam os reformadores. É assim que pensam os Reformados até hoje.  Agora, perguntamos: É assim que pensam os Pentecostais?

Observe: a mesma constatação que os “líderes protestantes” do século XVI chegaram acerca da doutrina da salvação da Igreja Católica Apostólica Romana pode, integralmente, ser observada na doutrina da Salvação dos Pentecostais.

Eles não acreditam que Cristo resolveu o problema da condenação eterna de forma igualmente eterna e definitiva, pois também acreditam na perda da Salvação. Ora, se Cristo morreu pelo indivíduo e ele ainda pode perder a salvação, o que, afinal, seria suficiente para dar-lhes a certeza da salvação? Respondemos claramente o que os Pentecostais respondem na sua prática religiosa: as obras. À semelhança dos Espíritas, que praticam boas obras por acreditarem ser importante para melhorarem seu processo de reencarnação, tudo que o Pentecostal faz é visando a “continuação da sua salvação”. Ou seja, faz porque entende que deve fazer para “continuar salvo”, do contrário poderá perder essa salvação, a exemplo das vigílias, das longas orações, das manifestações públicas de “espiritualidade” e das campanhas de evangelização, que servem como uma espécie de “cartão de visita” para ser apresentado na porta do céu.

Diante disso, podemos afirmar: o pressuposto Pentecostal que contrasta com o “Sola Gratia” é: Sinergia. Nós podemos contribuir ativamente para nossa salvação. A graça, no contexto Pentecostal, é algo quase dispensável, pouco utilizada, pouquíssimo estudada e nunca compreendida.

Esse pressuposto Pentecostal pode até estar correto e o da Reforma Protestante errado. Mais uma coisa é certa: são completamente diferentes. Além disso, são auto-excludentes. Não há possibilidade de conciliação entre eles.

 Soli Deo Gloria: Glória somente a Deus

A primeira pergunta do Catecismo Maior de Westmister faz uma indagação cuja resposta representa bem esse Sola: Qual o fim supremo e principal do homem? A Essa pergunta os herdeiros da Reforma responderam: Glorificar a Deus e Gozá-lo para Sempre.

Esse ponto foi levantado pelos Reformadores exatamente para combater a questão hierárquica da Igreja Católica, bem como da canonização de pessoas consideradas “santas”. É evidente aqui que a luta era contra o orgulho humano que quer, insuflado pelas idéias de satanás, assumir a glória devida “somente a Deus”.

Os Reformadores não admitiam, em hipótese alguma, dividir a glória devida “somente a Deus” com homens, ainda que esses fossem líderes religiosos proeminentes.

Era assim que pensavam os reformadores. É assim que pensam os Reformados até hoje.  Agora, perguntamos: É assim que pensam os Pentecostais?

A busca frenética pelo reconhecimento pessoal no meio Pentecostal é algo gritante. Muitos jovens se martirizam psicologicamente para ter “o dom de línguas estranhas”, por exemplo. Com que objetivo? Edificar a igreja? Absolutamente. Com o fim de serem reconhecidos como “homens e mulheres de Deus”. Isso, em última instância redunda em glória pessoal e particular, além de render cargos. Cargos que inclusive possuem natureza hierárquica, o que possibilita uma nova ponte à idéia de clero do Catolicismo Romano, passando pelo “cargo” de presbítero, evangelista e evoluindo aos diversos tipos de pastores, numa escalada gradual, sendo o posterior superior ao imediatamente anterior.  

De todo esse estado de “glorificação velada do homem”, característica peculiar do humanismo - principal influenciador do Pentecostalismo, decorre a variação encontrada nas igrejas neopentecostais: a figura do Apóstolo, que pressupõe um grau extremamente alto e superior em relação aos demais líderes da igreja. Só não se sabe onde essa escala hierárquica de poder eclesiástico vai parar.

Há também a glorificação dos “profetas” e “profetisas” que não possuem, necessariamente, um cargo, muito embora seja o objetivo de muitos deles. Esses são “eleitos” pelo próprio povo para receberem a glória do reconhecimento. Esses têm uma oração mais poderosa que os demais. Com esses, dizem seus admiradores, Deus fala coisas profundas e misteriosas. Uma das principais frases de Malafaia, por exemplo, para trazer alguma espécie de “maldição” aos seus oponentes é “sou profeta de Deus”. Isso requer para si uma espécie de contato direto com Deus, o que lhe confere um poder extremamente grande.

Diante disso, podemos afirmar: o pressuposto Pentecostal que contrasta com o “Soli Deo Glória” é: Deus seja glorificado, mas também o “homem e a mulher de Deus".

Esse pressuposto Pentecostal pode até estar correto e o da Reforma Protestante errado. Mais uma coisa é certa: são completamente diferentes. Além disso, são auto-excludentes. Não há possibilidade de conciliação entre eles.

Agora decida: o Pentecostalismo tem algo a ver com a Reforma Protestante? Os pressupostos do Pentecostalismo são convergentes ou divergentes em relação ao pressupostos da Reforma Protestante do século XVI?

Se por acaso (e espero que sim) atribui ao Pentecostalismo algum pressuposto que não lhe pertence, por favor apontem, faço questão de corrigir.


Série: Reforma Protestante.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

PENTECOSTALISMO E REFORMA PROTESTANTE - Parte I


Em 31 de outubro de 2011 o mundo estará comemorando 494 anos da Reforma Protestante. Sem entrar no mérito dos objetivos da Reforma - o retorno às Escrituras Sagradas  e, portanto, ao Cristianismo primitivo e apostólico -, entendemos que esse movimento, na prática, dividiu os cristãos ocidentais em Católicos e Protestantes. Até meados do século XX não havia uma terceira opção para o Cristão. Ou ele era Católico Romano ou era Protestante de alguma igreja cujo cordão umbilical, de alguma forma, o ligava ao século XVI, período da Reforma Protestante.

A partir de 1906, data que marca o início do Pentecostalismo como um sistema religioso, essa situação começa a mudar.

O advento do Pentecostalismo é algo tão grande quanto a Reforma Protestante. Em termos de importância e grandeza, podemos dizer: o movimento Pentecostal é exatamente do mesmo tamanho da Reforma Protestante. Por conta desse tamanho, não pode ser incluído como um subtópico ou conseqüência da Reforma. Não caberia; é muito grande para isso.  Assim como a Reforma Protestante está para o Catolicismo, o Pentecostalismo está para a Reforma Protestante. O Pentecostalismo é um movimento completamente novo, no sentido de ser completamente outro. Verdadeiramente uma nova Reforma Religiosa, que os historiadores, num futuro distante, possivelmente, chamarão de “a Reforma Pentecostal”.  A primeira Reforma, a do século XVI, distanciou o cristianismo do Catolicismo Romano, a segunda, a Pentecostal, no século XX, promoveu essa reaproximação, em diversas frentes, como demonstraremos.  A Reforma Pentecostal é, de fato, um movimento que trouxe para o cristão ocidental uma terceira opção, antes inexistente. Agora o Cristão ocidental, pode ser:

 a) Católico Romano;
 b)  Protestante;
 c)   Pentecostal.

Assim como ser Católico e Protestante ao mesmo tempo não é possível, também não é possível ser Protestante e Pentecostal simultaneamente. Para o Católico Romano tornar-se Protestante é absolutamente  necessário  que abandone catolicismo. Da mesma forma para um Protestante tornar-se Pentecostal, e muitos têm feito isso, terá que abandonar a fé Reformada, o que fará dele um ex-Protestante. Mas é igualmente verdadeiro que se um Pentecostal quiser abraçar a fé Reformada e tornar-se um Protestante, e muitos também têm feito isso, será necessário, indiscutivelmente, abandonar o Pentecostalismo.

Cabe aqui também uma breve abordagem sobre o neopentecostalismo. Antes de qualquer coisa, precisamos entender que o neopentecostalismo não possui, à semelhança da Reforma Protestante e da Reforma Pentecostal,  status de Reforma Religiosa. Ele é, antes, um subtópico do Pentecostalismo. Ele cabe perfeitamente dentro do Pentecostalismo. Ou seja, todas as igrejas neopentecostais continuam sendo, em última análise, igrejas Pentecostais, diferindo apenas no  grau de variação das práticas e premissas  pentecostais, cujo cordão umbilical e DNA, entretanto, poderão, facilmente, ser encontrados na Rua Azuza – local onde, historicamente, se reconhece o marco zero do Pentecostalismo, aqui  entendido como uma “a nova Reforma Religiosa”. Portanto, é um grande erro histórico classificar igrejas como Renascer, Universal, Mundial do Poder de Deus, Internacional da Graça de Deus, Sara Nossa Terra e todas as outras “novas igrejas” que seguem essa mesma linha, de igrejas Protestantes.  Elas não têm absolutamente nada a ver com a Reforma Protestante. São fruto, responsabilidade e culpa única e exclusivamente da  Reforma Pentecostal do Século XX.

Nessa série sobre a Reforma Protestante procuraremos provar os argumentamos acima, partindo dos seguintes pressupostos:

1º) Pressuposto doutrinário;
2º) Pressuposto Ético;
3º) Pressuposto Litúrgico, Prático ou bizarro.

Esperamos que, ao final da série, nossos leitores estejam absolutamente convencidos da enorme diferença entre as igrejas Protestantes e as Igrejas Pentecostais, a ponto de visualizá-las como fruto de duas Reformas Religiosas distintas e completamente antagônicas.

Desde já solicitamos a todos os nossos parceiros blogueiros e demais visitantes que contribuam para nossa série sobre a Reforma Protestante, que será concluída no dia 31/10/11, deixando seu comentário, impressão particular sobre o tema ou ainda indicação de vídeos e outros materiais, que usaremos como suporte para  nossas próximas postagens.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

HETEROFOBIA: PRECONCEITO E PERSEGUIÇÃO AOS HETEROXESSUAIS


Temos nos posicionado fortemente contra a chamada "agenda gay". Um plano estratégico muito bem elaborado para a divulgação e difusão do homossexualismo. Militantes gay's de todos os setores da sociedade, principalmente da grande mídia, têm trabalhado forte para desmistificar o homossexualismo e torná-lo uma opção "normal". Não precisa empreender grande esforço para perceber isso. 

Não é raro a presença de casais homossexuais em quase todas as produções da teledramaturgia brasileira. Aliás, é presença quase certa. Muitos podem considerar um exagero, mas essa idéia de "normalidade" acaba funcionando como uma mensagem subliminar às mentes das crianças, que estão em fase de formação, portanto receptivas aos mais variados tipos de conceitos, uma vez que ainda não dispõem de "filtros" desenvolvidos suficientemente para decodificarem o certo e o errado, sendo, muitas delas, enredadas e atraídas para este "mal". Penso que esse plano brilhante está dando certo. É exatamente por conta de todas essas ações, muito bem coordenadas, que vemos gay's cada vez mais jovens. "Isso ocorre porque a sociedade está com a mente mais aberta", afirmarão alguns. Verdade, mas a questão é: por que a sociedade está com a mente mais aberta? Acaso não é por conta desse bombardeio de informações "coloridas"?  

O movimento gay ainda conta com um importante aliado: nossa própria natureza decaída, que é má e logo se identifica com o "mal" proposto, sentindo-se atraída por ele, pelo pecado. Isso levanta uma questão muito importante: é o homossexualismo um mal em si ou, ao contrário, como a "agenda gay" quer ensinar, ele é neutro, isto é, nem bom nem mau apenas outra opção? Penso que o homossexualismo é "mal" por alguns motivos. Citarei apenas dois: 

1º) O homossexualismo é uma pregação escatológica do fim da humanidade, como já argumentei em outra postagem. Portanto, reitero nossa antiga afirmação: "os gay's são os profetas do fim da humanidade". Não, caro leitor, isso não é um apelo ao misticismo cristão. É lógica. Lógica pura. Suponhamos que o plano dê certo (ou errado, porque eles parecem ter um alvo bem definido): todos virem gay's e levem essa opção ao extremo, de forma que não admitam relações heterossexuais (menos eu, pois tenho que registrar o fato de forma isenta), o que acontecerá? A taxa de natalidade diminuirá vertiginosamente e em apenas duas ou três gerações a humanidade estará em risco de extinção. Muitos argumentarão: "a inseminação artificial resolve esse problema". Pode até ser, mas isso não está acessível a todos e o principal: precisar do sexo oposto para perpetuar a espécie é um forte argumento contra a falsa idéia de "normalidade" da prática homossexual. Um "tiro no pé", na verdade. Aconselho não usar esse argumento.

2º) Algo que é abominável é bem ou mal? Não há o que discutir: mal. Na perspectiva bíblica, utilizando-se uma boa exegese e hermenêutica (única forma de evitar erros grotescos na interpretação), o homossexualismo é uma prática "abominada" por Deus, logo, reprovável. Veja: "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é" (Levítico 18:22)Se a opinião de Deus é importante (e parece que é porque existe um movimento gay que se diz cristão, com direito a igreja cor de rosa e tudo mais), aí está Ela. Não é uma questão de interpretação. Não é uma questão cultural. É uma questão de coerência com Sua própria criação. "Deus criou Eva e Adão e não Ivo e Adão", como alguém já disse com propriedade.

Mas há uma nova modalidade de enfrentamento da questão da sexualidade surgindo. Vários blogs já noticiaram agressões de gay's a homens heteros, por conta de sua "opção" (para usar o mesmo termo) sexual.

Hoje isso ainda parece piada, mas quando os heterossexuais forem minoria (se é que isso acontecerá, muito embora eu não considere impossível), não tenham dúvida: isso será recorrente. Quem sabe não seja preciso criar a "delegacia do homem"? Daqui a pouco os filhos heteros dos heteros sofrerão bullying na escola. Seus amiguinhos (ou amiguinhas) gay's caçoarão deles dizendo: "ei homenzinho....ah...ele é homem, ele é macho", enquanto os outros rirão deles. Perseguição total. Não que todos os gay's tenham esse comportamento agressivo, bem como nem todos os heteros também agem assim, mas, curiosamente, os heterossexuais começam a ser perseguidos e tratados como "diferentes", "alienados" e "retrógrados". Praticamente um extra-terrestre, por conta de sua opção sexual, fazendo valer o velho ditado: "um dia da caça,  o outro do caçador (ou da caçadora)". 

O vídeo abaixo "ainda" é uma paródia. Mas, no ritmo que a coisa vai, deixará de ser rapidinho. Não deixe de assistir uma situação inusitada de um jovem sendo perseguido e destratado, por sua família, por ter "entrado no armário" e assumido ser heterossexual, num clássico exemplo de HETEROFOBIA: 


Como diria Arnaldo Jabor: "Antigamente o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal. Eu vou-me embora antes que passe a ser obrigatório".


sábado, 10 de setembro de 2011

A DECADÊNCIA NEOPENTECOSTAL E O CRESCIMENTO DAS IGREJAS TRADICIONAIS

Crescimento numérico nunca foi, necessariamente, prova da aprovação de Deus. Se assim fosse, teríamos que admitir que os Espíritas e Mulçumanos têm essa aprovação. Porém, isso vinha iludindo um número cada vez maior de pessoas. Quem, sendo membro de uma igreja tradicional, nunca teve que ouvir, num tom sarcástico, irônico e de superioridade:  "sua igreja não cresce", não é relevante para o o reino de Deus? Essa fala era embalada pelo "sucesso" de igrejas como a Renascer e Sara Nossa Terra, que serviu de modelo para muitas outras denominações neopentecostais.

As estatísticas eram, de fato,  desoladoras para as igrejas tradicionais. O senso IBGE de 1991/2001 apontava um crescimento irrisório de denominações tradicionais, como das Igrejas Presbiterianas (0,36%) e Luteranas, que além de não crescer perdeu milhares de membros. Nem mesmo os 20% de crescimento dos Batistas, tradicional denominação protestantes, podiam ser comparados aos mais de 1200% (mil e duzentos pontos percentuais) de crescimento da igreja Renascer e aos quase 5000% (isso mesmo: cinco mil pontos percentuais) da igreja Sara Nossa Terra. 

Muitos se gloriavam com esse crescimento afirmando ser uma onda de "reavivamento" que o Brasil estava passando. Muitos líderes enriqueceram com o dinheiro do povo. Alias, esse é o propósito da existência de muitas dessas igrejas. Os que não conseguiram enriquecer, por pura falta de talento teatral ou ainda algum resquício de vergonha na cara, hoje vivem das migalhas de suas estagnadas igrejas, que já não dão mais sinais de que se tornarão "mega igrejas", como uma dia sonharam. Mas há uma luz no fim do túnel: muitas igrejas outrora neopentecostais, estão, progressivamente, abandonando esse desvio e se aproximando, cada vez mais, das antigas doutrinas da graça, assumindo uma nova identidade que mais se parece com o modelo das igrejas tradicionais.

Em 1996, então aluno do SPN, lembro-me perfeitamente de uma aula de um renomado  professor de História do Cristianismo, Rev.Maeli Vilella, analisando o momento de euforia que as igrejas neopentecostais estavam experimentando. Dizia ele: "Se a situação econômica, financeira e educacional do país se estabilizar veremos um fenômeno inverso: as denominações pentecostais e neopentecostais entrarão em crise, em declínio, inclusive de crescimento, enquanto as igrejas tradicionais (Batistas, Congregacionais, Presbiterianas) passarão a crescer e a recuperar os anos de estagnação de crescimento".

Dez anos se passaram, o Brasil entrou num importante processo de estabilização em todas essas áreas e o que aconteceu com o crescimento das igrejas neopentecostais, especialmente Renascer, Sara Nossa Terra e todas as outras que seguem esse modelo? O que aconteceu com o crescimento das igrejas tradicionais? 

Bem, recentemente o Senso IBGE 2001/2011 andou divulgando um importante decréscimo no ritmo de crescimento das denominações neopentecostais e, em contrapartida, uma clara recuperação de Igrejas Históricas ou tradicionais. É só pesquisar na blogosfera. Muito embora essas estatísticas apresentem algumas falhas metodológicas, segundo alguns blogueiros, servem para apontar uma tendência que irá, inquestionavelmente, ficar mais clara com o passar do tempo, em permanecendo a atual conjuntura.

Essa análise paralela da relação entre fatores econômicos/sociais/educacionais com as questões religiosas não é nenhuma novidade. Max Weber já havia pensado nessa relação, em seu famoso livro "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", já abordado nesse blog.

Será que o Rev.Maeli, meu antigo professor, estava profetizando naquela aula? Teria ele recebido uma nova revelação de Deus? Evidentemente que não! Tratava-se apenas de uma análise sociológica e histórica de alguém que conhecia bem o funcionamento das estruturas religiosas ao longo dos séculos. 

Na verdade, a equação é bem simples: ninguém com o mínimo de formação, inteligência e  conhecimento bíblico engole as ladainhas enlouquecidas e ávidas por dinheiro dos neopentecostais. Ou seja, mais incautos = mais neopentecostais. Mais pessoas esclarecidas = menos neopentecostais. Simples assim! Talvez a saída para essas igrejas seja migrar para países ainda menos favorecidos, como Angola e Moçambique. É isso que o visionário Edir Macedo já está fazendo. Sigam-no os bons! (bons?) como diria Chapolim Colorado ou assistam, passivamente, as portas de seus templos serem fechadas. E não se preocupem: suas igrejas não farão a menor falta ao Brasil!

A Revista Isto É, com uma visão privilegiada do momento histórico, registrou a DERROCADA, A DECADÊNCIA E A FALÊNCIA DOS NEOPENTECOSTAIS, na figura antes ilustre da Bispa Sônia Hernandes. Reproduzimos abaixo um breve trecho da entrevista histórica:

ISTOÉ – Em 2002 a Igreja Renascer tinha 1.100 templos no mundo. Hoje são menos de 300. O que aconteceu? Sônia Hernandes – Houve uma readequação, algumas igrejas pequenas foram agrupadas para formar igrejas maiores, ao mesmo tempo que houve um incentivo para a abertura de grupos de desenvolvimento que acontecem nas casas, muitas vezes alimentados pela tevê e pela rádio. ISTOÉ – Só em São Paulo existem cerca de 40 ações de despejo contra a Renascer. Por que a igreja não consegue cumprir com suas obrigações? Sônia – Todas as ações estão em negociação e a igreja tem feito um grande esforço para resolver as questões pendentes. Para acessar a entrevista completa, clique: http://www.istoe.com.br/reportagens/158685_APRENDI+QUE+TUDO+QUE+PASSAMOS+NA+VIDA+TEM+UM+PROPOSITO+

"O líder que poderia imprimir agilidade à administração, o bispo Tid, primogênito de Estevam e Sônia que sempre teve saúde frágil, está em coma profundo há quase dois anos num leito de hospital. Da equipe de aproximadamente 100 bispos de primeiro time que a denominação tinha espalhada pelo Brasil até 2008, metade saiu para outras igrejas levando consigo pastores, diáconos e presbíteros. Para o lugar deles, ascenderam profissionais com menos experiência, o que, especula-se, pode ser um dos motivos da debandada de fiéis [..]. Hoje os Hernandes sangram a igreja para dar sobrevida ao padrão de vida nababesco que têm”, acusa um dissidente. Se nos anos 1990 a opulência do casal servia de chamariz para os adeptos da teologia da prosperidade, que celebra a riqueza material como uma dádiva proporcional ao fervor com que o devoto professa sua fé, hoje ela é uma ameaça à sobrevivência da instituição [...]. Foi também em 2010 que a igreja perdeu seu garoto-propaganda e principal dizimista, o jogador de futebol Kaká. Com a mulher, Caroline Celico, eles formavam uma dupla que fortalecia e divulgava a Renascer no Brasil e no mundo. O casal Hernandes não comenta a saída, muito menos o atleta do Real Madrid. Apenas Caroline arrisca alguns comentários enviesados. “Confiei no que me falavam. Parei de buscar as respostas de Deus para mim e comecei a andar de acordo com a interpretação dos homens”, escreveu ela em seu blog. O mau uso do dízimo pago pelo craque, que sabia do fechamento de templos e da fuga de lideranças, teria motivado o rompimento com a igreja. Foi um baque financeiro e tanto. Kaká é o sexto jogador mais bem pago do mundo e, estima-se, depositava nas contas da Renascer 10% dos R$ 21 milhões anuais que recebia": http://ministeriobbereia.blogspot.com/2011/09/o-declinio-da-igreja-da-bispa-sonia.html 

Se eu desejo o fim do Neopentecostalismo? Claro que sim! Excetuando-se a qualidade  musical, com graves restrições a maioria de suas letras, o neopentecostalismo não trouxe nenhuma contribuição ao verdadeiro evangelho. De onde procedem os escândalos? As vergonhosas propinas recebidas? A ideia de que todo pastor é ladrão? A falsa pregação? O engano? O evangelho água com açúcar? A famigerada teologia da prosperidade? Dos Neopentecostais. Alguém pode negar isso? Esse deveria ser o desejo de todo aquele que tem as Escrituras Sagradas como sua única regra de fé e de prática. E acreditem: isso não é desejar mal ao próximo. É, antes, desejar o bem ao evangelho de Cristo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

INDEPENDÊNCIA OU MORTE: A METAFÓRICA PREGAÇÃO DE D.PEDRO


O famoso grito às margens do riacho do Ipiranga - "Independência ou Morte" - bradado pelo imperador D.Pedro, em 7 de Setembro de 1822, requeria para o Brasil  a independência total de Portugal. Se negada, de alguma forma, o Imperador do Brasil estava disposto a lutar até à morte, se preciso fosse (será?). O grito previa possibilidades auto-excludentes. Não havia mais a possibilidade de continuar vivo e dependente de Portugal. Neste caso, a morte seria uma opção. Uma opção assumida somente depois da impossibilidade da Independência. A morte seria, então, uma opção. Não algo imposto, mas assumido espontaneamente, com certo grau de heroísmo.

Metaforicamente o grito "Independência ou Morte", invertendo-se a perspectiva, pode, facilmente, fornecer subsídios para a demonstração da Soteriologia Reformada, uma vez que "independência", entendida aqui como "libertação" (do pecado por Cristo), e "morte" são elementos importantes e presentes na doutrina Reformada da salvação. Contudo, para que haja uma maior coerência e adaptação com o "grito" da pregação Reformada, a ordem das palavras passaria a ser "morte ou independência". Continuando, entretanto, a ideia de auto-excludência das opções.

Na pregação Reformada, a morte não é uma opção é, antes, uma realidade natural e intrínseca ao ser humano pós-queda, envolvendo tanto a dimensão física quanto a dimensão espiritual. A opção ficaria por conta apenas da Independência, aqui entendida como "libertação" ou ainda "salvação espiritual". Porém, mesmo sendo opção, essa "independência" ou "salvação" não pode ser acessada ou mesmo escolhida pelo homem, mas apenas pelo próprio Deus. É somente Ele que escolhe e elege para si alguns, deixando os outros na mesma condição natural de morte em que se meteram voluntariamente.

A confissão de fé de Westmisnter tratando sobre esse assunto faz as seguintes afirmações:

1º)  Sobre a MORTE (física e, principalmente, espiritual, que é a separação de Deus) como certa e não opcional, numa situação pós-queda:

Cap.IV: I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido [...] Ref.Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom. 11:32 e 5:20-21. II Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. Ref. Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef. 2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18. III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. Ref. At. 17:26; Gen. 2:17; Rom. 5:17, 15-19; I Cor. 15:21-22,45, 49; Sal.51:5; Gen.5:3; João3:6. 

Cap.IX: III. O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Ref. Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5. 


2º) Sobre a INDEPENDÊNCIA, entendida como Libertação, Vocação ou Chamado Eficaz dos Eleitos, como restrita e limitada:

Cap.X: I. Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. Ref. João 15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Cor. 4:6; Ezeq. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17.  II. Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada. Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Ezeq. 36:27; João5:25. IV. Os não eleitos, posto que sejam chamados pelo ministério da palavra e tenham algumas das operações comuns do Espírito, contudo não se chegam nunca a Cristo e portanto não podem ser salvos; muito menos poderão ser salvos por qualquer outro meio os que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas com a luz da natureza e com a lei da religião que professam; o asseverar e manter que podem é muito pernicioso e detestável. Ref. Mat. l3:14-15; At. 28:24; Mat. 22:14; Mat. 13:20-21, e 7:22; Heb. 6:4-5; João 6:64-66, e 8:24; At. 4:12; João 14:6 e 17:3; Ef. 2:12-13; II João 10: l 1; Gal. 1:8; I Cor. 16:22. 

Para aprofundar ainda mais esse assunto, escute abaixo o sermão intitulado "LIBERTAÇÃO EM CRISTO", ministrado pelo Rev.Ádler Coelho, ministro presbiteriano da IPB de Araras-SP, primo do Filósofo Calvinista:



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