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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS - VÍDEO - REV.MARCOS ANDRÉ


1ª PARTE

 

2ª PARTE

 

4 comentários:

  1. Petrus Alois Rattisbonne14 de agosto de 2013 às 18:45

    Pois bem, o real caráter da doutrina da sola scriptura e a falácia de sua “conclusão” serão devidamente mostrados, mas, repita-se, no ritmo que requer a exposição da verdade. No entanto, e quem sabe até para que os próprios protestantes reflitam um pouco em quão precipitada é sua “conclusão”, relembro a vcs algo que eu disse sobre esse assunto no face: Mostrei- na conversa anterior a falsidade central da tese protestante que primeiramente nos ocupa: a da infalibilidade do sensus fidei de que seria dotado cada fiel, à qual corresponderia uma pregação da hierarquia eclesiástica com mero caráter de persuasão. Na verdade, como mostrado, tal noção é uma perversão da verdadeira doutrina sobre o sensus fidei. Resta-me mostrar, porém, ainda que brevemente, que esta forma de heresia de certo modo partilha tal perversão com o protestantismo, por um lado, e com o modernismo, por outro. Feito isso, passarei no próximo post a refutar a segunda falsidade da tese adversária: como a sola scriptura opera.

    Pois bem, o principal traço da heresia protestante é o atribuir a cada crente (protestante, claro) um sensus fidei infalível, tal como, mutatis mutandis, o faz o nosso modernista de primeiro tipo. Mas como se livra o protestantismo do intolerável papel de magister atribuído ao Magistério da Igreja? Por dois princípios, quais sejam: a) o da “sola scriptura”, com o qual se “congela o Traditum revelado nas Sagradas Escrituras” (P. Calderón, ibid.) e se transforma Cristo num Deus de papel; b) o do “livre exame”, pelo qual se atribui o carisma da infalível verdade à fé individual. E é este, em verdade, o principal desses dois princípios, porque é graças a ele que cada fiel individual saberia o que é de fato revelado e o que não o é, o que decorre e o que não decorre do revelado, etc. Naturalmente, este princípio, essencialmente liberal, entra necessariamente em contradição com o imobilismo do primeiro, e está na origem do caráter entrópico do protestantismo, ou seja, de seu fracionamento ao infinito em seitas que vão do luteranismo “ortodoxo” até a Igreja do Cuspe de Cristo... E como não seria assim se, como diz o Padre Calderón (ibid.), “a doutrina que possa seguir-se [da meditação pessoal] das Escrituras, conquanto seja certamente infalível pela garantida inspiração do Espírito Santo a cada crente, não tem por que ser imposta ao vizinho: toda teologia é pessoal e para proveito próprio, [e] que ninguém pretenda então constituir-se mestre dos demais”...?

    Naturalmente, não estou dizendo que a forma de heresia que me ocupa em primeiro lugar sustente o princípio protestante do livre exame. O que, sim, disse é que: a) sustenta um dos pressupostos desse princípio, qual seja, a infalibilidade de um “instinto da fé” ou sensus fidei individual “pela garantida inspiração do Espírito Santo a cada crente” (crente “autêntico”, adjetivaria um protestante); b) pressupõe que o Espírito Santo inspira ao conjunto dos crentes autênticos a mesma coisa, razão por que em face do sensus fidei de cada fiel autêntico ou da unidade do sensus fidei do conjunto dos crentes autênticos o Magistério da Igreja não tem senão caráter de persuasão, com o que, tal qual o protestantismo, conquanto mutatis mutantis, este tipo de heresia anti-igreja acaba também por resvalar pela ladeira do liberalismo e sua ojeriza ao caráter magisterial da autoridade; c) tal como várias heresias anteriores, tem o protestantismo caráter entrópico: que o digam os cerca de milhares de autoridades eclesiásticas “papas” atuais que saíram de suas oficinas... (Não me entenda mal Fábio Correia: bem sabes que algumas correntes de seu protestantismo aceitam bispos.)

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  2. Petrus Alois Rattisbonne14 de agosto de 2013 às 18:55

    Por outro lado, todavia, o protestantismo partilha, sempre mutatis mutandis, a perversão da noção de sensus fidei própria do modernismo. Com efeito, como o protestante, o modernista (que é um calvinista liberal de certo tipo) abomina o caráter magisterial da autoridade, mas tampouco quer enveredar pelo caminho do fracionamento protestante. Assim, se, “ao comer do fruto oferecido pela serpente kantiana” (P. Calderón, ibid.), ele “descobriu” que as fórmulas conceptuais escolásticas herdadas do passado não serviam para expressar o mistério divino e concluiu por isso que devia aderir ao livre exame, concluiu também, todavia, que para evitar um fracionamento ao modo protestante o livre exame não devia ser individual ou individualista, mas comunitário.

    Em função desse redirecionamento do princípio protestante, passou-se a crer que a revelação, expressa especialmente, sim, pelas Sagradas Escrituras, foi porém dada por Deus imediatamente não a cada fiel, mas tampouco exclusivamente à Hierarquia eclesiástica, e sim ao conjunto da Igreja, sem distinção entre fiéis e clérigos, mas tampouco sem hierarquização entre eles.

    Por isso a verdadeira autoridade em matéria de fé, a sua regra próxima, seria na verdade o resultado do diálogo comunitário de todo o povo de Deus em seu livre exame coletivo das Sagradas Escrituras, donde a fatuidade ou mutabilidade das formulações não só escolásticas, mas também dogmáticas: a Hierarquia eclesiástica, incluído naturalmente o Papa, não deveria exercer senão o papel de mediador desse diálogo. Sucede porém que, como, apesar de “assistido infalivelmente pelo Espírito Santo”, o livre e dialogado exame comunitário do protestantismo não pode terminar nunca, por tropeçar nas insuperáveis e volúveis contradições entre os multitudinários participantes de tal concílio permanente, aos dogmas outrora decretados ex cathedra pelos Sumos Pontífices nada os vem substituir, nenhuma decisão, nenhuma orientação além da linha geral de seguir dialogando per omnia saecula saeculorum.

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  3. Petrus Alois Rattisbonne14 de agosto de 2013 às 19:02

    Pois bem, não disse que o nosso protestante de primeiro tipo tradicionalista defenda a correção modernista do sensus fidei. Mas disse, sim, que: a) partilha com ela, mutatis mutandis, a suposição da assistência garantida do Espírito Santo ao conjunto dos féis (fiéis “autênticos”, adjetiva um protestante), sem marcada hierarquização entre crentes e hierarquia eclesiástica; b) por pressupor que o Espírito Santo inspira ao conjunto dos fiéis autênticos a mesma coisa, considera que o Magistério da Igreja tem, no máximo, caráter de persuasão, razão por que não lhe seria inconveniente o papel de mediador – não, é claro, de um diálogo com as características do diálogo modernista, mas sim, digamos, de possíveis arestas ou mal-entendidos entre os diversos “assistidos infalivelmente pelo Espírito Santo”; c) ainda mutatis mutandis, partilha com o modernismo e outras heresias a ojeriza ao caráter magisterial da autoridade.

    (Continua.)

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  4. Petrus Alois Rattisbonne19 de agosto de 2013 às 15:37

    Como demonstrado anteriormente, há incompatibilidade absoluta entre uma teoria que prega a autonomia da consciência individual e outra que ressalta a necessidade de fiel obediência à norma externa promulgada por um Magistério — o da Igreja Católica romana — participado por Deus aos homens, não obstante seja esse Magistério apenas a causa instrumental, e não formal, de uma autoridade que é própria apenas de Cristo.

    Lembremo-nos aqui de duas mudanças insufladas por Lutero, que representaram uma quebra no sensus fidei, como salienta com muita propriedade o teólogo argentino Álvaro Calderón:

    1- a Sola Scriptura, de acordo com a qual, trocando em miúdos, a Revelação se fixou de uma vez para sempre nas Sagradas Escrituras, e é oferecida por Deus imediatamente (ou seja, sem mediação de um Magistério eclesiástico) a cada indivíduo, como expressão imutável, congelada, e, sendo assim, não há progresso na expressão do Traditum — ou melhor, não há propriamente tradição alguma. Ora, isto é de todo contrário ao que é, para o católico, a Tradição: esta progride não em si mesma, mas em sua expressão pelo Magistério da Igreja, até o fim dos tempos;

    2- o Livre exame, de acordo com o qual é o sensus próprio da fé pessoal de cada fiel cristão o que o faz discernir o que é verdadeiro na Revelação, sem necessidade de uma mediação por parte de nenhum Magistério. O indivíduo protestante, portanto, “sente” qual a verdadeira interpretação que (a sua consciência individual) deve dar às Sagradas Escrituras.

    Grandes santos e teólogos já disseram e redisseram, ao longo dos séculos, que todo pecado é uma imagem do pecado original, ou seja: é um anseio de autonomia, de querer construir para si uma felicidade independente de Deus, além de uma orgulhosa desobediência. Ora, nos dois casos arquitetados por Lutero, há o desejo de livrar-se da autoridade exterior — algo análogo ao que acontece com os liberais de todas as cores, para os quais a relação da consciência individual “autônoma” (o nome diz tudo!) com a autoridade exterior é, no mínimo, um enorme problema. Por isso, para o liberal a autoridade deve ser mitigada, reduzida ao minimum minimorum, para não “coagir” as liberdades individuais.

    Com a simples menção a esses pontos da doutrina que fundou o protestantismo (que, no final das contas, levou à criação de uma “igreja” independente, “autônoma”), o leitor desse blog que minimamente inteligente já percebeu o seguinte: entre o liberalismo — contemplado em algumas das características comuns a todos os liberalismos — e o protestantismo há absoluta semelhança: ambos pregam a autonomia do indivíduo!

    Em um próximo post, mosttrarei se se pode dizer que a consciência é autônoma em algum sentido, e se não se pode, quais seriam os condicionamentos da consciência individual no ato de escolher esta ou aquela coisa — tomando como base o texto de Tomás de Aquino em De Veritate [De Electione Humana], q. 24, a. 1, resp.

    Tudo de bom!

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